Revista da EMERJ (Edição Especial) nº 63 - page 96

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 83 - 95, out. - dez. 2013
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na neoliberal, e a do estado do bem-estar, que parece estar capitulando
diante da crise sem nem denunciar o fato de que na realidade a grande
responsável pela crise de 2008 foi a falta de controle sobre o sistema fi-
nanceiro e as consequentes bolhas setoriais que desestruturaram não só
o mercado financeiro como também o mercado real da economia. Mas,
no caso, pode haver convergência entre esses neoliberais, que andei ci-
tando, cuja linha de pensamento é a de ter um governo mínimo e não
invasivo em relação aos direitos individuais, e os adeptos de governos de
bem-estar social, na própria linha do trabalho do Jeffrey Miron, que estive
aproveitando.
Podemos concordar, portanto, que limitar a intervenção governa-
mental no caso da repressão implica a redução dos custos gerais do go-
verno e dos custos da saúde. A diferença pode estar na forma de prover
uma saúde acessível para maior número de pessoas, um sistema de saúde
pública e de um mercado, cuja mão invisível, de que vocês já devem ter
ouvido falar, não esteja controlada por cartéis e oligopólios.
Mas, vamos a uma síntese da mencionada entrevista de Jeffrey
Miron à
Der Spiegel
. Vou reproduzir
só algumas respostas: a proibição é
mais perigosa do que a venda de drogas em supermercados; a proibição
das drogas é a pior solução para evitar o abuso, ela traz o mercado ne-
gro, que é corrupto e custa vidas humanas, constrange pessoas que não
abusam de drogas e é cara; o vício não é o problema, muitas pessoas são
viciadas em cafeína e ninguém se preocupa com isso, muitas pessoas são
viciadas em esportes, cerveja ou comida e isso não incomoda ao gover-
no; os efeitos da cocaína são descritos de uma forma muito exagerada;
existem banqueiros emWall Street que cheiram coca, mas, por terem alta
renda, acesso a um bom sistema de saúde e serem casados e terem uma
situação de vida estável, não chocam ninguém; há pessoas que fumam
crack e levam um tipo de vida muito diferente daqueles endinheirados,
são pessoas de baixa renda, sem emprego e com a saúde precária; muitas
dessas pessoas têm um fim trágico, contudo não se pode culpar a cocaína
por isso, mas sim a péssima vida que têm, assim como não se pode culpar
o crack no caso daquela menina que se prostitui pela situação que ela vi-
veu e que provavelmente a levou à droga; o
lobby
da proibição às drogas
exagera substancialmente seus efeitos, visando a seus objetivos, drogas
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