R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 96 - 104, out. - dez. 2013
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seu domicílio é vista com desconfiança, mas no caso de jovem bem nasci-
do esse movimento é positivo, ‘agrega cultura’.
A proposta de educação para autonomia aplicada às drogas é uma
pedagogia dialógica, provocante, desafiadora. Fazendo a crítica do real,
buscando identidade com a prática, num estudo rigoroso, comprometido
com a transformação da realidade, buscando uma sistematização coletiva
promove a crítica aos mitos e as meias verdades. No processo discursivo
dialógico, resgata-se o saber coletivo
18
.
Na perspectiva dialógica, educadores e jovens são agentes de trans-
formação, vão além da competência técnica e assumem o compromisso
político com a democracia, com a expansão da liberdade do sujeito, crian-
do alternativas às campanhas moralistas, reducionistas que caracterizam
o proibicionismo. As ações educativas precisam de um discurso amplo
que dê conta dos problemas do nosso tempo: a distribuição dos pode-
res, das riquezas, do saber; a violência, o desemprego, a fome, a falta de
solidariedade, “desigualdades que fazem com que alguns se sintam bem
porque pertencem a um grupo social e outros se sintam mal porque são
excluídos”.
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A educação para a autonomia propõe conviver com as drogas de
forma consciente. Afinal, “nossa cultura, como todas as outras, conhece,
utiliza e procura drogas. É a educação, a inquietude e o projeto vital de
cada indivíduo que pode decidir qual droga usar e como fazê-lo. O pa-
pel do Estado não pode ser mais que informar da forma mais completa e
razoável possível sobre cada um dos produtos, controlar sua elaboração
e sua qualidade, e ajudar os que desejam ou se veem prejudicados por
esta liberdade social”
20
. Assim, a normalização com controles coletivos
da produção, comércio e uso de drogas, associada à luta afirmativa de
direitos sem discriminação permitirá o aumento da demanda por orienta-
ção e ajuda, sendo capaz de reduzir danos e rompendo o círculo perverso
da violência.
18 PEY. M. O. 1988.
A Escola e o Discurso Pedagógico
. Ed. Cortez, São Paulo.
19 LAZARUS, A. 1995. "
Y a-t-I une prevention de la toxicomanie?" In
Toxicomanies, Sida, droits de l’homme et dé-
viances
, UNESCO, Paris, Compte Rendu du Colloque 11 a 13 Outubro 1994, SOS Drogue International.
20 SAVATER, F.
op. cit
.