Revista da EMERJ (Edição Especial) nº 63 - page 99

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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 96 - 104, out. - dez. 2013
tos, apresentam-se os efeitos como se causas fossem, cria-se um bode
expiatório político de evidente utilidade. Fomenta-se um excelente ne-
gócio, utiliza-se a desgraça alheia como reforço da boa consciência e se
retrocede ante as possibilidades jurídicas e técnicas de um Estado real-
mente moderno”
2
. Esse questionamento inicial tem por objetivo criar
condições para que cada sujeito se torne autor na construção e recons-
trução do sentido do uso de drogas.
A educação para a autonomia propõe
recuperar a memória de ou-
tros usos
no passado não tão distante e também no presente, que davam
prazer sem danos, na medida em que cercados de controles sociais cons-
truídos coletivamente. O consumo do vinho na Antiguidade Romana acon-
tecia entre adultos. Homens e mulheres bebiam em espaços diferentes,
depois das refeições, como forma de tornar as relações mais agradáveis.
Esse uso, entretanto, era proibido para as crianças, que tinham direito a al-
gumas gotinhas de ópio para que dormissemmelhor
3
. Séculos mais tarde,
na Europa, beber vinho foi aconselhado na prevenção da tuberculose
4
. A
folha de coca, no passado e no presente, é mascada pelos povos andinos,
tradicionalmente, sendo parte da economia camponesa, ‘lubrificante’ das
relações sociais, como planta sagrada presente nas atividades religiosas,
com propriedades medicinais, como forma de acompanhamento de si-
tuações individuais e coletivas na busca de soluções (cosmovisão)
5
. O uso
de pílulas de cocaína, nos EUA no século XIX, assegurava curar a dor de
dentes das crianças
6
. No início do século passado, a prescrição de heroína
era indicada nos casos de problemas respiratórios de adultos e crianças,
conforme registro no Dicionário Vidal e Georges de especialidades farma-
2 SAVATER,
op. cit
.
3 VILLARD, p. 1988. "
Ivresses dans l’Antiquité Classique"
,
In
T
oxicomanies: alcool, tabac, drogue
, Reve Histoire,
Economie et Société, no 4, Paris, França.
4 NOURRISSON, D. 1988. "
Aux
origines de
l’antialcoolisme" In
Toxicomanies: alcool, tabac, drogue
, Reve Histoire,
Economie et Société, no 4, Paris, França.
5 Instituto Indigenista Interamericano. 1989.
La coca...tradición, rito, identidad
.
México.
6 Revue L´Histoire Presse. 2002.
Le dossier sur la drogue
, Paris, França.
1...,89,90,91,92,93,94,95,96,97,98 100,101,102,103,104,105,106,107,108,109,...129
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