Revista da EMERJ (Edição Especial) nº 63 - page 103

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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 96 - 104, out. - dez. 2013
condicionadas
12
. Daí a importância de nos livrarmos dos bloqueios e li-
mites impostos ao pensar e agir, de forma autônoma, reaprendendo o
mundo. Diante de tantos danos e enganos criados pelo proibicionismo,
teremos que nos livrar do entorpecimento atual que domina nossa razão,
teremos que aprender a aprender, aprender a descobrir e inventar, repen-
sando formas de conviver com as drogas, num processo dialógico entre
educador e educando.
A educação para a autonomia
redefine
o lugar do educador
, que
consciente de seu papel como objeto-suporte na passagem para a vida
adulta, poderá ter uma atuação significativa. Colocando os limites neces-
sários entre a ação intuitiva e a ação que resulta da reflexão, o educador
supera a função tradicional de
vigiar e punir.
Dessa forma, assume um
lugar privilegiado, junto aos adolescentes e suas famílias, na tentativa de
resolução dos problemas relacionados ao uso de droga, sinal e sintoma de
um mal-estar no mundo
13
.
Redefine, também, o lugar do educando.
O risco do uso de drogas
aumenta na proporção direta da prática da
educação bancária
de acu-
mulação de informações sem reflexão, segundo a qual cabe ao educador
ensinar e ao aluno, escutar e repetir
14
. Porque dessa
forma, não há pro-
dução de conhecimento, mas sim reprodução do que está dado, o sujeito
não é chamado a conhecer, apenas memoriza mecanicamente, recebe de
outro algo pronto. De forma vertical e antidialógica, a concepção bancária
de ensino age no sentido da passividade. In
forma de forma reducionista
que a droga faz mal, que as drogas tornadas ilícitas fazem mais mal e são
as mais consumidas. Dissemina a ideia falsa que toda experiência leva à
dependência, que os danos decorrentes do uso de drogas são inexoráveis
e generalizáveis. Nas feiras de ciência nas escolas, como resultado da edu-
cação bancária, os jovens reproduzem as informações divulgadas restritas
à ação das drogas no sistema nervoso central e à legislação que condena.
Fica assim descartada toda capacidade crítica quando os jovens precisam
de fato conhecer seus limites psíquicos, físicos, sociais, aprender a ter cui-
12 SAFATLE, W. 2011. "Voltar a agir"
In
Revista Cult
, n. 163, novembro, Brasil.
13 AMARAL DIAS. C. 1979.
O que se Mexe a Parar: estudos sobre a droga
. Ed. Afrontamento, Coimbra. 
14 FREIRE, P. 1996.
Pedagogia da autonomia, saberes necessários à prática educativa
, Ed. Paz e Terra, São Paulo.
1...,93,94,95,96,97,98,99,100,101,102 104,105,106,107,108,109,110,111,112,113,...129
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