R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 83 - 95, out. - dez. 2013
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ração dos dependentes. Mas, as mais notórias são experiências como a da
Holanda com a maconha e a da Suíça com a heroína, coincidentemente
em relação a uma das drogas mais perigosas no segundo caso, e à mais to-
lerada no primeiro caso. Nos dois casos, apesar das controvérsias inevitá-
veis, o sucesso foi inegável. Digno de registro é o fato de que na Holanda,
onde a experiência foi mais massiva, o consumo de drogas pela população
não difere da média europeia. Aparentemente, a tolerância e os
coffee
shops
não aumentaram a proporção da população
que consome drogas.
Mesmo assim, o governo holandês executa uma guerra contra a produção
de drogas leves envolvendo agricultores, importadores e exportadores,
inclusive de cânhamo, gastando uma verba anual de cento e cinquenta
milhões de euros. Esses custos, na repressão às drogas leves, mesmo rela-
tivos, são muito pequenos em relação aos padrões internacionais.
Na Europa, mais de cinquenta milhões de pessoas têm experiência
com o consumo de drogas leves, implicando cerca de quinze a vinte por
cento da população entre 16 e 65 anos de idade. Informações sobre os Es-
tados Unidos revelam que vinte e cinco milhões de pessoas fizeram uso de
drogas leves em 2007, número proporcionalmente maior do que o da Eu-
ropa, embora a repressão seja muito superior na América, considerando
as quase um milhão de pessoas presas por posse de maconha nesse mes-
mo ano, principalmente prisões de usuários negros, pardos e hispânicos.
A experiência permite analisar o modelo econômico do mercado
da droga com informações e situações diferenciadas. Mesmo assim, não
se pode obter muita consistência nos modelos de análises em termos de
ofertas e demandas, em termos de análise de custo e benefícios, sob dife-
rentes regimes, considerando o impacto da legalização das drogas leves,
uma vez que as variáveis subjetivas e algumas objetivas podem ter uma
ampla variação. É necessário sublinhar que o mercado é global e há exten-
sas lacunas de conhecimento sobre este mercado.
A primeira hipótese a ser avaliada é a de consumidores e produto-
res se comportarem racionalmente diante da legalização, resultando em
diminuição de preço e de incidentes, de modo a otimizar a redução da
vigilância governamental e a consequente probabilidade de ser pego em
delitos que ainda não foram cancelados. Isso significa arbitrar um coefi-
ciente de busca da felicidade, que pode minimizar o prazer em relação aos