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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 83 - 95, out. - dez. 2013
Saio um pouco do mencionado trabalho para dizer que no Brasil o
déficit é inferior a 40% do PIB e tem estado sob controle, mas enquanto
a taxa Selic, que remunera o dinheiro aplicado do governo está em 7,25%
ao ano, a remuneração básica oferecida pelo governo americano está em
0,5% ao ano, o que implica que a despesa com essa rubrica é na verdade
uma receita, posto que a inflação nos Estados Unidos é superior a este
percentual.
Voltando ao trabalho dos nossos amigos acadêmicos americanos,
os políticos se preocupam com a dívida, mas cortes de despesas e aumen-
to de impostos têm pouco apoio. Não é de se estranhar, portanto, o au-
mento da adesão à legalização das drogas nos Estados Unidos para cobrir
o déficit fiscal. Principalmente nos estados, porque eles não têm aquele
mecanismo de tomar dinheiro recebendo troco. Então, nos estados e ins-
tâncias locais, essa questão tem avançado mais aceleradamente. Dezoito
estados norte-americanos já aderiram à legalização da maconha para uso
medicinal e, mais do que isso, os Estados do Colorado e de Washington,
onde fica Seattle, legalizaram a produção, o comércio e o consumo de ma-
conha através de referendos, o que é uma decisão muito mais avançada
do que a mera política de tolerância praticada pela Holanda.
Por conta dessa situação, pensadores liberais radicais, como o men-
cionado Jeffrey Miron, têm concedido entrevistas, com palavras que irão
chocar o senso comum dos formadores de opinião, inclusive os de es-
querda que embarcaram em aventuras autoritárias e se esquecem que o
sonho de Marx sobre uma nova sociedade se apropria dos sonhos libertá-
rios de superação do feudalismo das sociedades atrasadas, promovendo
e sugerindo a construção de uma nova sociedade não para controlar as
pessoas, mas sim para destruir uma sociedade ditatorial que controla a
todos para garantir vantagens pessoais diferenciadas para a classe domi-
nante. A resposta a isso só pode ser uma sociedade mais participativa,
mais criativa, mais democrática e mais condescendente, como ousou for-
mular ele à época, “a cada um conforme suas necessidades; de cada um
conforme sua capacidade”, sonho maior de liberdade, adaptada ao poten-
cial de cada um.
Mas, aproximando essas reflexões para a contemporaneidade, há
duas principais linhas de pensamento: a liberal, dominada pela doutri-