R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 96 - 104, out. - dez. 2013
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cêuticas, na França, em sua primeira edição em 1914
7
. A maconha além
de dar prazer, também teve e tem função terapêutica
8
.
As poções mágicas são recorrentes nas historias infantis. As crian-
ças ainda hoje escutam a história da princesinha e dos reis, seus pais que,
na festa de seu nascimento, convidam as fadas, mas negam o convite às
bruxas. Rejeitadas, as bruxas rogam uma praga: quando crescer a menina
irá se ferir com uma roca, e adormecerá para sempre. Os reis preocupa-
dos providenciam o banimento das rocas/drogas em todo o reino. Mas
restou uma no sótão e sem saber como lidar com aquilo, a princesa se
fere, adormece confirmando a maldição. Não teria sido melhor que ela
aprendesse a conviver com as rocas?
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As poções mágicas ensinam os personagens crianças a viver me-
lhor. Com elas,
Alice,
pelo menos
no país das maravilhas,
crescia, dimi-
nuía, enfrentava os problemas da vida.
Branca de Neve,
menos sabida,
menos informada
comeu uma maçã envenenada e ficou na dependência
de um príncipe que viesse salvá-la.
João e Maria,
abandonados pelos pais,
descobrem a casa de chocolate, comem abusivamente, não passam mal,
pelo contrário, ficam fortes, jogam a bruxa na fogueira e pela rota das
pedras
deixadas pelo caminho, retornam ao lar e são felizes para sempre
com seus pais.
Popeye
comia espinafre e ficava mais forte, tornando-se
invencível.
Super Homem
tinha força inata e voava, resolvendo, sozinho,
todos os problemas do mundo.
Peter Pan e Sininho
tinham poderes de
voar e fazer o tempo parar.
Emília
personagem do nosso Monteiro Lobato,
graças ao
pó
de pirlimpimpim conseguia se transportar para outros tem-
pos, outros países como a Grécia, onde encontrava Péricles. Na infância,
as poções mágicas/drogas são elementos positivos, dão força e coragem
para enfrentar desafios, aumentam a percepção de tempo e espaço, mas
na vida adulta, a história muda, pelo menos algumas
poções
se tornam
proibidas. Recuperar a memória sobre esses uso e costumes fortalece a
autonomia, no sentido de melhor conhecer o mundo e tentar reconstruí-lo
de forma generosa e solidária.
7 DUGARIN, J. e NOMINÉ, P. 1988. "
Toxicomanies: historique et classifications" In
Toxicomanies: alcool, tabac, dro-
gue
, Reve Histoire, Economie et Société, no 4, Paris, França.
8 HENMANN. A. e PESSOA JR, O. 1986.
Diamba Sarabamba, coletânea de textos sobre a maconha
, Ed. Ground,
São Paulo.
9 ARATANGY, L. 1991.
Doces venenos, conversas e desconversas sobre as drogas
. Editora Olho D´Água, São Paulo.