Revista da EMERJ (Edição Especial) nº 63 - page 98

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 96 - 104, out. - dez. 2013
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Drogas, a Educação
para a Autonomia como
Garantia de Direitos
Gilberta Acselrad
Mestra em Educação, Coordenadora da Área de Saú-
de Pública e Direitos Humanos, FLACSO Brasil.
No Brasil, fala-se muito em prevenção às drogas quando de fato
precisamos de educação sobre drogas.
A alardeada necessidade de prevenção às drogas, no sentido de
evitar que o próprio uso aconteça, é um obstáculo epistemológico por
excelência, porque ela produz continuamente concepções ou sistematiza-
ções fictícias como abstinência, dependência inexorável, internação como
ideal de tratamento, assim como as condições de sua credibilidade. Parte-
se de um critério de verdade que abre caminho para soluções violentas
e imediatistas e que não incluem a construção de um projeto de futuro.
Introduziremos aqui o conceito de educação para a autonomia que,
em oposição, instaura uma polêmica incessante contra as evidências da
prevenção, entendida, portanto, como uma ilusão perigosa. Mas, sua apli-
cação tem, tal como no poema de Drummond de Andrade, uma pedra no
meio do seu caminho: o proibicionismo que entende que
“a droga é um
invento maléfico promovido por uma máfia internacional de sem-vergo-
nhas para embolsar imensos lucros, escravizar a juventude e corromper a
saúde física e moral da humanidade; ante tal ameaça, só cabe uma enér-
gica política repressiva em todos os níveis, desde o mais simples traficante
até as plantações de coca na selva boliviana; quando a polícia tiver meti-
do na prisão o último grande narcotraficante, o Homem se verá livre da
ameaça da Droga”
1
.
O ponto de partida da educação para a autonomia será questionar
essa visão apregoada como real na qual “misturam-se fatos e preconcei-
1 SAVATER. F. 2000.
Ética como amor próprio
, Ed. Martins Fontes, São Paulo.
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