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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 83 - 95, out. - dez. 2013
a de outros países europeus – há uma boa parte da população holandesa
que rejeita tal política. A pesquisa indica que os menos suscetíveis à apro-
vação são os que menos experiência têm quanto ao assunto e menor pro-
babilidade de encontrar drogas e seus usuários na sua vida cotidiana.
Uma questão difícil de ser dimensionada é a da liberalização de dro-
gas leves, enquanto continua uma importante repressão ao consumo de
outras drogas. É normal consumidores e fornecedores utilizarem diferen-
tes tipos de drogas, inclusive as alcoólicas. Isso significa que a política de
convencimento para não chegar ao vício e reduzir o consumo de todas as
drogas pode ser uma política mais eficiente, uma vez que o custo/bene-
fício da redução da guerra contra o tráfico é muito maior no âmbito das
chamadas drogas pesadas.
Segundo a
Drug Policy Alliance
, nos Estados Unidos, empreiteiros
construtores de prisões e os milhares de fornecedores corporativos que
oferecem seus produtos a esse mercado em expansão em feiras anuais
– desde escovas de dente e meias, a arames farpados, cercas e manilhas –
recebem subsídios de incentivos fiscais e abatimentos de governos locais,
gastando verbas que poderiam atender necessidades como educação de
qualidade, estradas, saúde, infraestrutura. A venda de títulos, isentos de
impostos, para financiar construções de prisões está agora estimada em
2,3 bilhões de dólares anuais. No ano passado, a
Wackenhut Corrections
Corporation
, que gerencia ou possui trinta e sete prisões nos Estados Uni-
dos, dezoito na Austrália e Reino Unido, tentou converter uma plantação
de ex-escravos na Carolina do Norte em uma prisão de segurança máxima
para armazenar em sua maioria prisioneiros negros da capital da nação.
Esses investidores mobilizam “corretores” em busca de prisioneiros recu-
perando a imagem e a expertise dos caçadores de escravos do século XIX.
Empresas que parecem estar longe do negócio da punição – porque se
trata mesmo de um negócio – estão intimamente envolvidas na expansão
do complexo industrial prisional. Laços com a construção de prisões são
umas das muitas fontes de investimento rentável para líderes financeiros.
Em prisões privadas, chega-se a cobrar dos prisioneiros e suas famílias
preços exorbitantes para os telefonemas preciosos que muitas vezes são o
único contato deles com o mundo livre. Muitas empresas, cujos produtos
consumimos diariamente, nos mostram que a força do trabalho da prisão