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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 83 - 95, out. - dez. 2013
danos pessoais e sociais ou não. Além disso, é preciso deixar claro que,
no caso holandês, há uma política de tolerância e não de legalização. O
modelo apresentado pelo prêmio Nobel Gary Becker, em 1992, e outros
em 2008, salienta a importância da elasticidade da demanda, ou seja, da
resposta do consumo e da oferta em relação a variações no preço. Quanto
maior a variação em função dessa alteração, mais elástica é a demanda.
Contudo, o mercado das drogas, segundo outro especialista liberal
norte-americano, conseguiu, tanto na década de 1990, quanto na primei-
ra década deste século, rebaixar os preços por conta do que acontece com
todas as grandes corporações. E o tráfico é, inegavelmente, uma grande
corporação, com conexões em todos os âmbitos legais e ilegais. Aqui há
de se destacar a experiência gerencial e logística adquirida no processo
produtivo, sem nenhum prejuízo das fantásticas margens de lucro que a
ilegalidade propicia. Outros especialistas nessa área, como Jeffrey Miron,
defendem a legalização para superar as imperfeições do mercado. É mui-
to “
economês”
, não é? É difícil medir a produção mundial e o mercado
consumidor de todo o mundo. Entretanto, quanto à oferta, estima-se que
houve um crescimento desde 1980, enquanto os preços mantiveram-se
relativamente constantes. Não importa quanta repressão tenha havido.
Esse é o dado das Nações Unidas, 2010.
Em estudo sobre as quedas de preços recentes das drogas em geral,
além do aprendizado que citei acima, especialistas afirmam que a produ-
ção mundial da
cannabis
tem crescido cerca de dois por cento ao ano ao
longo das últimas décadas, o que implica em um crescimento nos últimos
vinte anos de cerca de cinquenta a sessenta por cento na produção do
período. Dado que o preço da maioria das drogas ilícitas diminuiu, não
é surpreendente que o consumo tenha aumentado, sem deixar de notar
a importância do fato de que na Europa, onde a guerra às drogas não se
compara ao que ocorre nos Estados Unidos, houve, segundo as Nações
Unidas, uma pequena queda no consumo. Em seu relatório mundial sobre
drogas, a ONU explica que a produção de drogas leves não tem fronteiras:
a maconha é cultivada emmais de cento e setenta países. Todo economis-
ta que analisa a questão da proibição das drogas sem pré-conceito (não
é preconceito, é sem pré-conceito) moral, sugere a legalização por conta
dos custos pessoais e sociais decorrentes da guerra contra as drogas.