R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 83 - 95, out. - dez. 2013
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legislativo, no executivo, no judiciário, nas forças armadas e nas forças
policiais, d
ata venia
, com as exceções que todos conhecemos. Além disso,
os economistas, os economicistas, ainda não perceberam que a volúpia
do poder costuma estar acima dos ganhos financeiros, sem que sejam
estes fatos necessariamente contraditórios. Como sempre, os mais capi-
talizados conseguem sempre auferir vantagens de todo o tipo, inclusive
vantagens legais. Registre-se que a legalização criaria oportunidades, caso
o Estado não esteja dominado pelas grandes corporações. Essas vanta-
gens se dirigiriam ao autoabastecimento e ao pequeno produtor, prática
sempre saudável considerando-se a importância de o governo não ser tão
leniente na consideração do interesse dos poderosos.
Hoje existem dois milhões de pessoas presas nos Estados Unidos –
vou repetir, dois milhões de pessoas presas –, sendo que dois terços delas
não completaram o ensino médio e um terço estava desempregada no
momento da detenção. Ao longo dos últimos dez anos, o financiamento
de construções de prisões foi feito em detrimento do investimento no
ensino superior e, ao mesmo tempo, o acesso à educação na prisão foi
drasticamente reduzido. Oficialmente, 8,3% dos negros em idade de tra-
balhar nos Estados Unidos estão desempregados. Mas, considerando o
efeito encarceramento, essa proporção aumentaria significativamente.
Pesquisas confirmam o óbvio: a relação positiva entre o desemprego, bai-
xos salários e reincidência – e positivo aí é só o sinal de mais, as coisas são
complementares, são ruins e complementares. O estigma da prisão foi
codificado em leis e regulamentos de licenciamento que impedem pes-
soas com antecedentes criminais de aproveitarem inúmeros empregos e
oportunidades, efetivamente excluindo-os da força de trabalho legítima
e forçando-os a aderir a empreendimentos ilegais. O sistema penal pode
ser visto como um tipo de instituição do mercado de trabalho que siste-
maticamente o influencia de forma difusa sobre as chances de vida de
minorias desfavorecidas. É a perversão erigida em sistema de governo e
em sistema de dominação.
Como na escravidão, a engrenagem focada na guerra às drogas divi-
de famílias, destrói indivíduos e desestabiliza comunidades inteiras, muito
mais do que o uso da droga. Esta política está direcionada aos americanos
que vivem ou estão próximos de locais que abrigam minorias, com rendas