Revista da EMERJ (Edição Especial) nº 63 - page 79

77
R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 73 - 82, out. - dez. 2013
encaminhar para a dependência. Embora o grupo de dependentes seja
uma minoria, ele é objeto de atenção nossa, os técnicos da área. Daí ter-
mos uma série de pesquisas e de questionamentos, de intervenções, de
estudos, de discussões, desde o ponto de vista mais clínico até o ponto de
vista da pesquisa formal, para tentar responder a essa questão, ou seja,
por que algumas pessoas conseguem ser usuárias recreacionais e outras
não, acabando por se tornar dependentes. Não existe uma resposta. Sa-
bemos que existem fatores predisponentes. Um deles é a comorbidade
psiquiátrica, ou seja, a presença de outros problemas psíquicos associa-
dos, pessoas com doenças depressivas ou com sintomas de ansiedade
muito grandes têm o maior risco de se tornarem dependentes; pessoas
com transtornos de atenção e assim por diante. E isso a gente investiga
muito para conseguir identificar vários desses fatores predisponentes.
Também se fala muito em vulnerabilidade biológica. Existe um ní-
vel de vulnerabilidade biológica? Existe, mas não é uma fatalidade, ou
seja, a pessoa tem um gene da família que a condiciona, se entrar em
contato com o álcool, será alcoólatra – isso não existe. Esse tipo de fa-
talidade associada a um patrimônio genético não existe. Embora vários
estudos genéticos mostrem algumas formas de alcoolismo de caráter
hereditário e, provavelmente, biologicamente determinado, sabemos
que grande parte de alcoolismos familiares são muito mais imitação de
modelo do que algo de herança biológica. O que os geneticistas não
contam para a gente é que, embora alguns estudos sejam incontestá-
veis ao mostrar que existe algum tipo de herança biológica, a maioria
dos estudos dos geneticistas não concluiu nada, ou seja, concluiu pela
inexistência dessa herança, o que nos leva a concluir que não existe
um alcoolismo, mas sim diversas e variadas formas de alcoolismos, uns
onde existiria algum componente biológico importante, que seriam uma
minoria, e a grande parte tendo outros determinantes, fatores psicodi-
nâmicos, fatores ambientais, socioeconômicos e assim por diante.
Fala-se muito dos fatores psicodinâmicos. É claro que o desenvolvi-
mento da personalidade é algo muito importante para determinar como
a pessoa se relaciona com os seus objetos de consumo – e não podemos
esquecer que a droga, seja lícita ou ilícita, também é um dos objetos de
consumo da nossa sociedade, aliás bastante glamorizado. Mas a questão
dos fatores psicodinâmicos esbarra em uma questão já conhecida há mais
de quarenta anos. É que não existe uma especificidade; não existe um
1...,69,70,71,72,73,74,75,76,77,78 80,81,82,83,84,85,86,87,88,89,...129
Powered by FlippingBook