R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 73 - 82, out. - dez. 2013
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ilícitas. Isso foi na época em que tive a oportunidade de ir para a França,
quando conheci a Gilberta Acselrad e fiz estágio no Hospital
Marmottan,
em Paris, com o Professor Olievenstein
.
Ele foi alguém que modificou essa
maneira preconceituosa com que a psiquiatria via os dependentes quími-
cos, os drogados.
A partir de uma visão muito mais humanista, o Professor Olievens-
tein criou um modelo, um método, uma escola de tratamento de depen-
dência que se opunha ao modelo vigente na época, que era o modelo
americano, modelo repressivo, modelo proibicionista e que vinha com
o ranço dessa patologização dos dependentes químicos, dos drogados,
colocando-os ao lado dos delinquentes e dos pervertidos. Essa maneira
revolucionária do modelo francês me inspirou e me animou a montar algo
parecido.
Dessa forma, mantenho esse serviço há vinte e cinco anos na Uni-
versidade Federal de São Paulo. Atendemos, hoje em dia, aproximada-
mente setecentas consultas de dependentes químicos por mês. Começa-
mos como um serviço só de assistência e depois ampliamos para o serviço
de prevenção e, pelo fato de estarmos dentro de uma universidade, foca-
lizamos especialmente a área de pesquisa que já desenvolvemos há mais
de quinze anos. É muito difícil trabalhar nessa área. É muito difícil para
todos os profissionais envolvidos nessa área das dependências, do uso de
drogas e do abuso, pelo fato de esta ser uma área multifacetada, em que,
nenhuma das áreas por si só se basta; precisamos de interlocução cons-
tante com os outros campos do conhecimento.
Só para dar alguns exemplos, trabalhando com dependente quími-
co acabamos ficando muito envolvidos com a dificuldade de ele abando-
nar a sua dependência, com todas as dificuldades inerentes a largar um
produto com o qual a pessoa estabeleceu uma relação de tanta intensida-
de, de necessidade daquilo. Contudo, quando saímos um pouquinho da
clínica e do contato com o dependente, começamos a ver outras coisas,
como, por exemplo, os estudos epidemiológicos, que vão contar outra his-
tória das drogas.
E que histórias são essas? Existem várias. Pensei em algumas para
discutir com vocês e levantar alguns questionamentos. Por exemplo, os
dados importantes epidemiológicos que temos sobre a história das dro-
gas no Brasil basicamente vêm de dois lugares: as pesquisas da Fiocruz
ou as do CEBRID. As pesquisas do CEBRID têm mostrado dados bastante