R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 38 - 45, out. - dez. 2013
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liar o que nós esperávamos. E avaliaram em 2009. Avaliaram e chegaram
à seguinte conclusão: “Os Estados membros não ficaram satisfeitos com
os resultados e declararam que continuam fortemente preocupados com
a crescente ameaça colocada pelo problema mundial das drogas. A deci-
são tomada foi continuar o esforço por mais uma década.” Parece piada!
Então, mais uma década. Eles fizeram isso em 2009. Vamos esperar agora.
Alguém aqui pode adivinhar o que eles vão dizer em 2019? Eu sei: “Olha,
o resultado não foi como nós esperávamos. Mas vamos tentar mais 10
anos.” Eu pergunto por que não cinco anos? Seis, doze, onze? Por que
dez? Dez é um número cabalístico.
Vou agora mostrar um exemplo que conheci de perto: o exemplo da
matança do México. Independentemente dos danos individuais, familia-
res, etc., nós temos aqui um dano coletivo, que é o maior dano coletivo do
mundo hoje. E quem produziu esse dano? Em 2006 assumiu a presidên-
cia do México Felipe Calderón. Já tinha havido uma abertura anterior. O
México estava com um problema sério de tráfico para os Estados Unidos,
então, por pressão talvez dos Estados Unidos, influência dos Estados Uni-
dos, ele resolveu empregar as forças armadas contra os cartéis de drogas.
Ele disse que ia trazer a paz para os mexicanos com o emprego das for-
ças armadas. Quatro meses depois, o Ministro da Defesa mostrou quan-
tas coisas tinham apreendido; milhares de traficantes presos. Em suma,
aquelas coisas governamentais. Porque quando nós olhamos as estatísti-
cas nós vemos de um jeito, o governo, qualquer governo, vê de uma ma-
neira sempre positiva. Eles divulgaram aquilo, mas o que aconteceu foi o
seguinte. Sabem quantas pessoas morreram durante o governo Calderón
no México? Mais de 70 mil pessoas por morte ligada à guerra de drogas,
independentemente das mortes em geral.
Eu ia falar sobre a nova lei de drogas, mas já recebi o cartão verme-
lho, e só quero dizer o seguinte: a nossa nova lei de drogas, como já men-
cionei aqui, estabeleceu que o uso e a posse para uso pessoal, não são
punidos com pena restritiva de liberdade. Aí, o que se esperava de 2006
para cá? Agora, como havia muitos usuários presos, as cadeias iam dimi-
nuir a sua população. Não; aumentou de forma exponencial. Nós sabe-
mos por quê. Os usuários pobres, das comunidades, “neguinhos”, foram
promovidos a traficantes, tiveram a sua categoria elevada. Inversamente,
os traficantes com outro perfil foram rebaixados a usuários, e as nossas
cadeias estão cheias.