Revista da EMERJ (Edição Especial) nº 63 - page 41

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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 38 - 45, out. - dez. 2013
que é ser de outros lugares. Eu sei o que é ter a percepção de quem mo-
rou ali e de alguém que convive em outro nível hoje em dia, em função de
uma nova inserção social.
Temos aqui policiais militares, juízes, promotores, e nós aprende-
mos a cumprir a lei. Se a lei está errada, não nos compete questionar. Te-
mos que cumprir porque a Constituição manda, as leis mandam e é nossa
obrigação cumprir. Muito diferente disso é o policial, o juiz, o promotor se
arvorar em missionário, e missionário de uma ideologia, missionário de
uma tese. Então, como nós temos aqui muitos jovens, eu resolvi dizer por
que razão eu adoto essa posição hoje.
Eu vi muitos colegas policiais militares sendo enterrados. Eu, como
chefe do Estado Maior da Polícia Militar, compareci a muitos enterros de
policiais militares e civis. E, em função de minha inserção social, também
tinha notícias de pessoas com as quais eu tinha convivido, que tinham
perdido seus filhos porque tinham se desviado. Eu comecei a perceber o
seguinte: aquelas pessoas também têm mãe, irmãos, pai. E eu, na condi-
ção de Secretário de Direitos Humanos aqui do Estado, recebia sempre as
pessoas, as comunidades, e certa feita apareceu uma senhora, Sra. Sonia,
mãe de um PM que tinha sido assassinado covardemente no Rio de Ja-
neiro.
O canal daquela reclamação era a Secretaria e eu fazia questão de
receber todas as pessoas que fossem lá para conversar e fazer o que pu-
desse. E essa senhora estava realmente brigando comigo, dizendo que a
Polícia Militar não fazia nada, não apoiava os policiais, “e agora como ia
ser a família, e colocava os rapazes jovens em qualquer situação”. E eu
disse: realmente. Mas lá também estava uma senhora que, momentos
antes, estava chorando porque tinha perdido um filho, morto por um po-
licial militar. E eu falei: olha, a senhora está vendo aqui... Então as duas
mães (eu me emociono muito quando falo isso; eu até evito falar), a mãe
do soldado, do policial militar morto por traficantes, e a mãe de um rapaz
que ela dizia não ser traficante, mas que a polícia dizia ser traficante, elas
se abraçaram e choraram muito na minha frente, e eu chorei muito, abra-
çado com elas.
Então, a gente começa a perceber que isto que nós temos no mun-
do, que isso que nós temos na nossa sociedade é, do ponto de vista de
quem realmente quer o bem da sociedade, de quem não tem outros in-
teresses, isto é uma insanidade, isto é uma perversidade. Este modelo
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