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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 38 - 45, out. - dez. 2013
que acham que não deve mudar, que legalizar é pior, que vai ser horrí-
vel. Não há problema algum. Mas nós, que defendemos a legalização, nós
queremos o quê? Proteger a juventude. Então nós concordamos. Onde
está a discordância? A discordância está naquilo que a Dra. Karam falou.
Como você vai saber o que é droga perigosa, não perigosa? É tudo muito
arbitrário. Olha gente, eu não conheci ninguém que tenha morrido por in-
gerir cocaína ou maconha. Agora, já conheci muita gente que morreu por
álcool. Por álcool morre muita gente. Eu nunca vi ninguém jogado pela
rua porque cheira cocaína, porque fuma maconha, mas já vi muita gente
pelas calçadas, jogadas, por causa do álcool. No entanto, vende-se álcool
em qualquer lugar, livremente. São substâncias psicoativas que causam os
mesmos males. Quer dizer, deve haver algum interesse. Basta ver de onde
procedem as drogas que são proibidas no mundo. De que regiões do mun-
do? E de onde procedem as drogas que são permitidas? A gente começa
a perceber que temos uma questão geopolítica e econômica importante
para discutir, antes de a gente pensar que é simplesmente uma questão
de ser mais perigosa ou menos perigosa. E é aí que entra a discordância
entre proibicionistas e não proibicionistas ou as pessoas que defendem a
legalização.
Quais são os danos que as drogas causam? Depende. Eu tenho um
blog e fiz uma chamada para esta reunião e três pessoas se manifesta-
ram contra, que é um absurdo, duas delas disseram o seguinte: “olha, eu
tenho um parente que é drogado, infernizou com a nossa família, eu sou
contra.” Num modelo de proibição policial penal carcerária, nesse mode-
lo, o parente dela infelicitou a família. Ela devia pensar o seguinte: “então
vamos pensar em outra coisa”. Não sei nem se seria legalização, mas po-
dia pensar em outra coisa.
Então vejam que as pessoas não sabem do que nós estamos falan-
do, e é por isso que eu resolvi fazer um quadrinho:
Danos individuais – Há muitas pessoas, como essa senhora, que se
preocupam com os danos individuais de um parente. Então eles se preo-
cupam por isso. Não há uma preocupação nem com os danos sociais, nem
com os danos coletivos, da sociedade como um todo, nem com os danos
comunitários, como nós vemos acontecer nas “comunidades”. Há pesso-
as até que acham que a polícia está matando pouco, e dizem isso com a
maior tranquilidade. Tomam uma cervejinha ou duas num bar e “mas está
matando muito”, como eu falo, e respondem “mas tinha que matar mais