R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 38 - 45, out. - dez. 2013
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é uma perversidade, e já foi colocado aqui que isso tinha um objetivo
claro. Quando o Presidente Nixon declarou a chamada guerra às drogas,
não era guerra às drogas. Era guerra ao movimento da contracultura, era
guerra contra o movimento estudantil do final da década de 60, 68/69. Ele
assumiu em 69. Era uma guerra contra os negros, contra os movimentos
civis dos negros, o movimento feminista. Então, como ele não podia editar
uma lei contra as pessoas, ele buscou um atalho. Qual era o atalho? Você
criminaliza determinadas condutas e você atinge o seu alvo. E é isso que
foi produzido no mundo. E nós ... chamam os brasileiros de “macaquitos”,
não é à toa. Nós somos “macaquitos”, nós copiamos tudo o que vem lá do
centro, para poder ficar igualzinho.
Então, em função de muitas outras circunstâncias dentro da cor-
poração, eu também achava, e muitos policiais acham até hoje, que não
é só o traficante, mas o usuário que é o maior culpado. Eu também já
achei isso, mas a gente tem que começar a refletir sobre essas coisas. Essa
concepção de que o usuário é mais culpado do que o traficante é uma
concepção religiosa, que não resolve o nosso problema. Então a grande
verdade é que eu fiz um exame de consciência, procurei analisar a situa-
ção. Eu não sou um jurista, apesar de ser bacharel em Direito, não militan-
te, mas eu sou um cientista social, e um cientista social se preocupa com
essas questões. Em função também talvez da minha inserção, da minha
origem, da minha etnia, talvez por tudo isso eu tenha chegado à conclu-
são de que eu tinha que me posicionar de uma forma radicalmente contra
esse modelo proibicionista que, por incrível que pareça, a ONU, o orga-
nismo de defesa dos direitos humanos do mundo, patrocina: uma política
que causa extermínio, que causa dores, que causa a infelicidade de tantas
pessoas no mundo inteiro. Esta é a maior das contradições: que a ONU,
Organização das Nações Unidas patrocine essa política.
As pessoas normalmente são contra as drogas em função de algu-
ma coisa. Estão normalmente preocupadas com a juventude. É preciso
proteger a juventude. Em vez de você afastar a juventude das drogas,
você faz um movimento inverso, você afasta as drogas da juventude. Se
nós queremos proteger a juventude, quem não quer proteger a juventu-
de? Vamos acreditar que os proibicionistas são sinceros. Se eles são since-
ros, o que nem todos os proibicionistas são, mas, vamos admitir que todos
os proibicionistas são sinceros. O que eles querem? Proteger a juventude.
E nós, nós aqui da LEAP Brasil? Com certeza neste auditório há pessoas