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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 73 - 82, out. - dez. 2013
Drogas e Proteção à Saúde
Dr. Dartiu Xavier
Professor e livre docente da Universidade Federal de
São Paulo.
Boa tarde a todos. Gostaria de agradecer o convite, à LEAP e à Esco-
la da Magistratura, por estar aqui com vocês dividindo minha experiência.
É claro, fui convidado para falar sobre o ponto de vista da minha área de
expertise,
que é a medicina. Contudo, gostaria de salientar que quando
falamos dessa esfera de substâncias psicoativas, vulgarmente conhecidas
como drogas, falamos sempre sobre um assunto em que a multidisciplina-
ridade é implícita; não podemos falar só sob um foco. Esse problema apa-
rece na Medicina. Só para vocês terem uma ideia do absurdo, os Tratados
de Medicina até a década de 1960, os grandes tratados no mundo inteiro,
classificavam as dependências de drogas junto com as perversões sexuais
e com a delinquência, ou seja, drogados, tarados e pervertidos, uma visão
bem “neutra”, bem “cientifica”, bem “isenta” – essa era a classificação dos
grandes tratados psiquiátricos. Hoje em dia, a Medicina mudou bastante,
mas acho que a mentalidade dos médicos não acompanhou essa mudan-
ça. Grande parte da visão médica ainda mantém o ranço dessa visão an-
cestral, medieval. Então, o que vou tratar agora é uma das maneiras como
a Medicina vê isso, porém não sei nem se é a maneira principal, se é a
mainstream,
mas é uma das visões de abordagem da questão das drogas.
Há vinte e cinco anos, mantenho um serviço dentro da Universi-
dade Federal de São Paulo para tratamento de dependentes químicos.
Depois que fiz Medicina, me especializei em urgências psiquiátricas. Tra-
balhava em pronto socorro psiquiátrico e, como era um trabalho extrema-
mente extenuante, vi que precisava mudar de vida porque não dava mais
para ficar trabalhando com urgências como um “maluco”. E resolvi fazer
alguma coisa diferente. Em São Paulo, apesar de ser uma cidade enor-
me em termos populacionais, não existia nenhum serviço gratuito que
tratasse de dependência de drogas ilícitas; só existiam serviços privados.
Serviços públicos gratuitos só existiam para tratamento de dependentes
de álcool. Então, diante dessa necessidade, pensei em montar dentro da
universidade um serviço para o tratamento de dependentes de drogas