67
R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 46 - 69, out. - dez. 2013
da Polícia Militar tem uma frase, que acho fantástica, que diz assim: “Ser
policial é sobretudo uma razão de ser.” Eu acho que essa pequena frase
sintetiza a muitas vezes olvidada nobreza da função policial, tão estigma-
tizada – muitas vezes com razão, reconheço isso. Não ignoro as mazelas
institucionais. Mas essa razão de ser da função policial acaba sendo de-
turpada. Explico. O meu colega, Comissário de Polícia Fábio Neira, aqui
presente, em 2007 trabalhava na Inteligência da Segurança Pública e eu,
nos meus dezoito anos de polícia já trabalhei em inúmeros unidades po-
liciais, sempre na atividade-fim, e duas delas são emblemáticas. Uma é a
CORE – Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais, outra é a extin-
ta DRE – Delegacia de Repressão a Entorpecentes, hoje conhecida como
Delegacia de Combate às Drogas.
Em 2007, participei de uma operação policial na Vila Cruzeiro. Foi
midiática. E nós ficamos sem munição. Nós tivemos que nos retirar e re-
agrupar no Largo da Penha, porque nós ficamos sem munição. Isso não
aconteceu no Oriente Médio. Isso aconteceu no Rio de Janeiro, na Penha,
numa área de alta densidade populacional. E, quando nós voltamos, eu
estava dentro de um carro blindado da CORE, falando com o Neira pelo
nextel, porque ele me dava as coordenadas dos marginais que nós tínha-
mos que matar – é isso mesmo, a gente estava ali para isso – porque eles
atiravam contra nós, não com fuzis, mas com granadas.
E aí, Dr. Salo, ano passado eu estive na Espanha, e eu fui a Vivei-
ro, cidade do meu pai, estive na cidade que, mal comparando, é como
Maricá, na região litorânea. E polícia vai a outro lugar? Vai lá na polícia,
nem que seja para se lamentar. Estive na
Comisaría de Policia de Viveiro
,
uma unidade policial de investigação que tem 80 policiais. Fui recebido e
me identifiquei como espanhol residente no estrangeiro, brasileiro, poli-
cial, queria conhecer, e os policiais, no começo meio assim, mas alguém
lembrou que tinha recebido um e-mail sobre guerra às drogas no Rio de
Janeiro. E aí ele me chamou para ver, e por uma coincidência esse e-mail
retratava uma dessas operações em 2007, e eu aparecia - para você ver
como é a vida – fazendo progressão, tiro, enfim, aquela maluquice. E aí ele
olhava: “
Eres tu
?” “
Soy yo
.” E aí eu não vou repetir, por respeito à casa,
o que ele me falou, mas eu virei a sensação da delegacia, porque eles
chamaram todos os policiais para conhecer o policial do Rio de Janeiro. E