Revista da EMERJ (Edição Especial) nº 63 - page 68

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 46 - 69, out. - dez. 2013
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“Da pele para dentro, começa a minha exclusiva jurisdição. Eu elejo
aquilo que pode ou não cruzar essa fronteira. Sou um Estado soberano,
e os limites da minha pele resultam muito mais sagrados que os confins
políticos de qualquer país.”
Essa é a posição deles e que eu adoto plenamente. Daqui para den-
tro a jurisdição é minha e ninguém tem o direito de dizer o que eu devo
consumir e o que eu não devo consumir e como eu devo tratar o meu cor-
po. Esse para mim é o princípio fundamental que rege toda reflexão que
eu faço. Só para marcar e não me esconder em nenhuma neutralidade
aparente e científica.
- Inspetor Francisco Chao de La Torre:
Obrigado, Dr. Salo, pela resposta à pergunta e seu argumento final,
da liberdade, que remete aos três motivos meus, Francisco Chao, Inspetor
de Polícia, Policial Civil há dezoito anos, para defender publicamente, e
isso tem um preço, a legalização das drogas tidas como ilícitas.
O primeiro motivo, é que eu sou pragmático. A vida me ensinou a
ser pragmático. E o pragmático costuma ter aversão à hipocrisia. E é hipó-
crita querer o Direito Penal funcionando como penicilina social, no dizer
do meu amigo, Dr. Orlando Zaccone, para uma droga que eu não gosto,
ao passo que eu me drogo desde quatorze anos, com tabaco. Parei há um
ano. Passei por todas as fases, inclusive a da negação, mas o que me fez
parar de fumar – e eu consumia dois maços, não vou dizer a marca, mas
era aquele vermelho e branco, e tinha que ser o da caixinha, Dr. Rubens,
não podia ser o do maço. Eu sinto saudade até hoje. Porque eu comprava
cigarro no posto de gasolina em que eu abastecia. E aí você para, abaste-
ce, vai na loja de conveniência e pede para a menina: “Me dá o cigarro x.”
Ela me dava e eu olhava. Tem a propaganda. “Não, esse aqui, não. Esse
diz que dá câncer. Me dá o que faz abortar.” Teve um dia que a menina me
olhou com uma expressão! Coitada, a menina trabalhando. Ela começou
a tirar as caixinhas e não achava o que fazia abortar. Só tinha o que dava
câncer, impotência. Aí ela me olhou, eu me senti tão abjeto, que eu falei:
vou parar de fumar.
Bom, esse é o primeiro motivo. O segundo motivo é prático. É de
natureza profissional. Como eu falei, sou policial há dezoito anos. O hino
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