Revista da EMERJ (Edição Especial) nº 63 - page 114

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 110 - 114, out. - dez. 2013
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uma invasão e uma ocupação (já que ocupação é a palavra chave dos dias
de hoje, a nossa cidade é toda ocupada, nós estamos ocupados), também
de tratamentos e de informações. A política criminal de drogas no lado da
saúde pública produziu uma ocupação, uma invasão de informação circu-
lante, neutralizou nosso acesso aos meios de comunicação. Então, um dos
aspectos da guerra contra as drogas é a maciça estratégia de informação
circulante que faz com que nós aceitemos políticas truculentas, extermí-
nios e internações compulsórias com uma certa naturalidade.
Então, nos anos sessenta e setenta, a pauta que entra no Brasil
também em termos de saúde pública sobre questão das drogas não tem
nada a ver com a realidade local, é uma pauta que conjuga sem nenhum
estudo, sem nenhuma informação qualificada, tratamentos para o proble-
ma norte-americano. Nosso problema era outro: substâncias diferentes,
faixas etárias diferentes, baseado na realidade da América Latina. Então,
o primeiro ponto chave de nosso “combate contra a guerra às drogas”
seria a produção de uma informação acurada. A Prefeitura do Rio de Ja-
neiro, sem nenhuma informação qualificada sobre isso, desenvolve uma
política de recolhimento compulsório que não tem nenhum lastro, a não
ser o lastro histórico do nosso higienismo, da nossa apartação e da nossa
truculência.
Então, produzir uma informação acurada pode trazer soluções lo-
cais e nos tirar dessa pauta imposta que também é uma pauta de tra-
tamentos. Aqui no Brasil existe também a indústria de tratamentos re-
ligiosos que lucra com a internação compulsória e que tem uma ponta
econômica muito forte e completamente aderida a saberes médicos po-
licizados. Hoje em dia a assistência social é policizada. Não é à toa que os
Conselhos Regionais de Psicologia e os Conselhos Regionais de Assistência
Social estão se articulando contra as políticas de recolhimento compul-
sório, pois eles estão sendo convocados a trabalhar de uma forma poli-
cizada e truculenta. Em seu livro
A Palavra dos Mortos
,
Zaffaroni afirma
que toda vez que houve um genocídio na história do ocidente, primeiro
existiu um discurso legitimador. Hoje é o
crack
o flagelo da humanidade,
antes era a maconha, ontem a cola. Esses genocídios foram sempre feitos
por forças policiais ou por forças armadas em funções policiais. Então,
hoje nós estamos também policizando e militarizando a assistência social,
a assistência médica e a psicologia. No Brasil, estamos com essa pauta
atrasada com mais mortes e prisões. Quando a lei de drogas foi alterada
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