Revista da EMERJ (Edição Especial) nº 63 - page 118

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 115 - 125, out. - dez. 2013
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ção mexicana. Aquele grupo republicano, reacionário, fundador, que acha
que eram descendentes do
Mayflower
, os donos da cultura americana,
aquele grupo branco, reafirmava a supremacia deles, a hegemonia deles,
a hegemonia cultural, rejeitando e punindo os grupos imigrantes: primei-
ro os mexicanos; depois foram os italianos, os poloneses, o grupo do sul
da Europa, da Europa católica, da Europa luterana, os alemães também,
a cultura do álcool. As nossas culturas não são puritanas; na nossa cultu-
ra a virtude está na moderação e não na abstinência. Para os puritanos,
para aqueles do
Mayflower
, é a abstinência. Então, ali temos um primeiro
problema, as proibições não baseadas em saúde pública, baseadas em
preconceito, ou seja, fundamentalmente raciais.
O segundo problema que temos é econômico; isso não é brincadei-
ra. Estamos falando em dois grandes tóxicos proibidos, o ópio, que não
conheço muito bem, e a cocaína, que é nosso problema econômico sé-
rio. Temos economias complementares, temos uma divisão internacional
do trabalho muito bem feita. Os Estados Unidos tiveram a experiência da
proibição do álcool, que não foi uma lei, foi uma reforma da Constitui-
ção que tiveram que fazer. A proibição do álcool trouxe para eles grandes
problemas. Um dos maiores foi a criação de uma mistura de criminalida-
de violenta com criminalidade inteligente, que eram as máfias criadas na
luta daqueles anos doidos. Todos nós sabemos que a proibição com uma
demanda rígida é uma maneira econômica nova de fabricar ouro, é uma
alquimia nova. Com uma demanda rígida, qualquer porcaria que seja proi-
bida vai subir o preço; cria-se ouro. Se a distribuição do trabalho é feita com
países subdesenvolvidos onde existe mão de obra barata, logo disponível,
cria-se uma economia de sobrevivência violenta, necessariamente. Isso é
o que está acontecendo dramaticamente com o nosso querido México. A
produção de cocaína não se faz no território dos Estados Unidos. O tóxico é
produzido fora do território. A luta por atingir o mercado consumidor é feita
fora do território norte-americano. Os Estados Unidos vendem armas àque-
les que estão lutando, fora do território, para atingir o território. Segundo
negócio: a renda do tráfico internacional não é sobre o preço da cocaína,
porque a cocaína é barata, mas pelo preço dos serviços de distribuição. É
sobre o preço de um serviço, não da coisa em si. Amais-valia onde fica? 40%
ou menos ficam até chegar ao mercado consumidor e 60% da mais-valia,
da renda do tráfico, desse serviço ilícito, ficam no mercado consumidor, na
distribuição interna do mercado consumidor. Então, o negócio não poderia
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