R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 16, n. 63 (Edição Especial), p. 115 - 125, out. - dez. 2013
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serve para nada. Prevenção de nada, absolutamente de nada. É um gasto
público, o orçamento está comprometido, temos milhões e milhões de
horas de trabalho, de funcionários, tudo isso para nada.
Na realidade, o que temos é uma difusão da cocaína, na qual temos
usuários, como acontece com todos os tóxicos. Temos alguns que abusam
do tóxico; temos poucos dependentes, mas temos alguns. O grande pro-
blema para nós, neste momento, no país, como problema de saúde, é o
álcool; este é o grande problema de saúde, não é a cocaína e muito menos
a maconha.
Outro grande problema que temos é a droga genocida. Eu não acre-
dito em grandes conspirações internacionais. Se pensarmos que temos
uma grande conspiração, um grande poder calculando que façam isso,
que façam aquilo, com poder de produzi-lo, isso é falso. Mas, na reali-
dade, produzem-se fenômenos, processos sociais e quando os processos
sociais produzidos na realidade são funcionais a determinados interesses,
esse processos são fomentados e não são detidos. Um desses processos
é o uso da droga genocida. A droga genocida é a última porcaria, que
não é entorpecente, é sim veneno. Nós chamamos de “paco” em nosso
país; aqui é chamado de “crack”. Quando começamos a pesquisar o que
é o “paco” e o que estava acontecendo, observamos o seguinte: ninguém
sabia o que era o “paco”; não se tinham análises sobre o “paco”. Este é o
último resultado da produção da cocaína. Como vai ser o último resultado
da produção da cocaína se não temos laboratórios no país? Não porque
a Argentina não seja um país grande. Não temos laboratórios porque a
matéria-prima é muito volumosa. Então, não podemos ter laboratórios
para produzirmos a matéria-prima. Temos alguns no norte, talvez, mas
não suficientes. Então de onde sai isso? Por que isso? Quando fizemos a
análise, descobrimos que com 1 kg de cocaína se fazem 1 milhão de doses
de “paco”, misturando com qualquer porcaria, veneno de ratos, as coisas
mais horríveis – isso é o “paco”. É barato. Vende-se nas favelas, nas nossas
favelas, para quem vive na miséria. É usado pelos garotos mais novinhos,
com 13 a 18 anos. Produz lesões neurológicas, principalmente no lóbulo
frontal, lesões pulmonares, os garotos perdem peso rapidamente, e pro-
duz mortes em pouco tempo, em um ou dois anos. São banidos da própria
favela. É uma marginalização na marginalização. Quando fomos procura-