

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 377 - 397, Maio/Agosto 2017
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entrada fácil de agentes infecciosos. Mesmo sem tais lesões, acredita-se que
pode haver uma imunidade menor nas células da mucosa retal do que nas
células da mucosa vaginal.
Assim, o sexo anal receptivo desprotegido é a prática sexual de maior
risco, tanto para homens como para mulheres, sendo o sexo insertivo vaginal,
ainda que presente o risco, uma forma de transmissão menos efetiva, princi-
palmente da mulher para o homem. O sexo oral não parece ser uma impor-
tante forma de transmissão, embora tenha sido registrado como via de con-
taminação, segundo comprovam estudos, envolvendo diferentes populações.
Mesmo que campanhas de “sexo seguro” tenham diminuído muito as
taxas de soroconversão (indivíduo com resultado negativo que apresenta pos-
terior resultado positivo) em HSH, estudos recentes, realizados nos EUA, na
Austrália e no oeste europeu, mostram um incremento nas taxas de práticas
sexuais sem proteção. Este incremento provavelmente é relacionado à crença
de menor possibilidade de adquirir HIV, devido a uma maior e mais eficaz
terapêutica antirretroviral e a fadiga em seguir as recomendações. Estudos rea-
lizados no Brasil corroboram esta recaída para práticas não seguras em HSH.
Portanto, todos estes estudos mostram que a prática sexual entre HSH
está associada a um risco acrescido. É valendo-se de tal ótica que a exclusão
de HSH na doação de sangue, considerando o período de janela imunoló-
gica de 12 (doze) meses, bem como as parceiras sexuais destes, ainda é uma
medida necessária para a proteção dos receptores das transfusões sanguíneas,
ao diminuir o risco de transmissão de doenças, a partir do menor percentual
de contaminação do sangue coletado.
Pontuado o aspecto histórico e, também, as razões científicas pelas
quais se criou a conceituação de grupos de risco acrescido, percebe-se
com mais clareza que a postura cautelosa das normas de vigilância sani-
tária não somente se justificaram no passado, mas também permanecem
adequadas à realidade atual.
Cabe ressaltar, ademais, que evidências científicas comprovam que ape-
nas com a aplicação de testes laboratoriais não é garantida a eliminação de
transmissão de doenças infecciosas, e, frente à grande responsabilidade de ga-
rantir produtos de elevada qualidade, torna-se imprescindível a realização de
outras medidas, como a triagem clínico-epidemiológica, visando diminuir ao
máximo o risco de doadores infectados durante o período de janela imunoló-
gica (período para a manifestação do vírus, que compreende normalmente de
duas a doze semanas, mas em alguns casos pode ser mais prolongado).