

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 377 - 397, Maio/Agosto 2017
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Com relação à doação de sangue por parte de homossexuais, já
vivi uma situação constrangedora quando, ao tentar fazer uma
doação, fui impedido por ter assumido, em entrevista, a minha
condição sexual. Isso já faz alguns anos e até hoje não voltei
por não terem mudado a lei, e principalmente por não querer
assumir uma identidade falsa quando na verdade eu poderia
muito bem voltar ao banco de sangue e dizer ‘não sou homos-
sexual’. E quero doar sangue! Tudo seria diferente!
É uma sensação até engraçada, de dever cumprido, sinto-me um
cidadão melhor, mais participativo. Enquanto eu mantiver um
comportamento seguro e tiver certeza de não estar contaminado,
vou continuar mentindo para poder doar sangue, até que
alguém apresente um argumento razoável para a diferenciação
entre gays e heterossexuais, nesse questionário. Quando alguma
autoridade sanitária explicar convincentemente porque meu
sangue oferece risco a quem recebe, mesmo que eu siga o pa-
drão aceito para doadores heterossexuais, eu paro.
Em momento algum fui perguntado sobre ter usado camisinha
nas relações sexuais que tive e essa deveria ser a questão essen-
cial. Essa distorção permite que um heterossexual seja aceito
como doador, ainda que tenha feito sexo sem proteção, en-
quanto um homossexual é tachado de impróprio.
Fico observando o eterno conflito entre homossexuais e bancos
de sangue e me pergunto se as pessoas se esquecem de que exis-
tem várias pessoas que fazem sexo sem se importar com gênero.
Elas sequer se rotulam. São promíscuas, não sei? Já fiz sexo com
homens e mulheres e já doei sangue sem problemas. Acredito
que os métodos atualmente colocados à disposição são capazes
de dar segurança!
Do outro lado, ainda que não abertamente antagônicos, os profissio-
nais da área da saúde que atuam no segmento, embora não detenham uma
opinião empírica na plena acepção da palavra, asseveram: