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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 309 - 347, Maio/Agosto 2017

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remos um

juízo de valor

sempre que certas qualificações sejam atribuídas

a estes fatos, formando o objeto de estudo da

axiologia

22

.

Portanto, en-

quanto no juízo de fato busca-se a resposta para a questão da existência,

no juízo de valor analisamos se o conteúdo definido pelo juízo de fato

nos causa atração ou repulsa.

23

Não obstante, no plano da experiência, a realidade e o valor apresen-

tam-se caoticamente entrelaçados. De fato, sem qualquer esforço racional-

mente direcionado, fato e valor parecem se sobrepor, confundindo o juízo

humano numa falsa unidade. Desse modo, a primeira ação da consciência

humana é, justamente, tentar separar a realidade do valor.

Num primeiro momento, nossa atitude

cega para o valor

deve buscar

no caos da experiência a existência do fato que se pretende conhecer. Isso

significa que devemos, nesta etapa, limitar-nos a constatar a existência de

um fenômeno, sendo esta constatação realizada pela verificação das proprie-

dades ínsitas ao objeto.

24

Em sequência, consolidado o juízo de fato pela

afirmação da existência do objeto, é possível verificar que sua existência

não se reduz mais à sua realidade natural. Para além desta, o objeto possui

determinadas propriedades que só são levadas em conta no mundo cultural

quando se estabelecem relações

práticas

entre sujeito e objeto.

25

Vejamos um exemplo: fazemos um juízo de fato quando dizemos

que esta folha de papel existe. Sua existência pode ser afirmada porque este

objeto detém certas propriedades, como, por exemplo, a sua densidade e a

sua textura, o que nos permite distingui-la do aço. Por outro lado, além de

constatar sua existência, podemos ainda atribuir-lhe determinadas qualida-

des, o que será resultado de um juízo de valor. Se, por exemplo, a qualidade

atribuída for a sua utilidade, poderemos ter como resultado um juízo moral:

é “correto” (i.e.,

devemos

) derrubar árvores para fabricar folhas de papel,

pois estas permitem a acumulação e transmissão de conhecimento.

teles classificados após os tratados sobre a “Física”. São os livros que Aristóteles designou como a “Filosofia Primeira”

e que se referem ao estudo do ser enquanto ser, isto é, antes que seja determinado com a forma dos seres físicos, mate-

máticos ou psíquicos. Notando a apropriação do termo pela filosofia cristã com um sentido transcendental, o filósofo

alemão Jacobus Thomasius, no século XVII, propôs sua substituição pelo termo “ontologia” (estudo do ser) como forma

de laicizar seu estudo.

22 ARANHA, Maria Lúcia de Arruda

et

MARTINS, Maria Helena Pires.

Filosofando (Introdução à Filosofia)

, 2ª ed.,

São Paulo: Moderna, 1993, p. 273.

23 Idem, p. 273.

24 VÁZQUEZ, Adolfo Sánchez.

Ética

, 24ª ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003, p. 137.

25

Idem

, p. 137 e 138.