

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 263 - 308, Maio/Agosto 2017
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ta, haja só um órgão central. Por fim, que esta Sociedade Nacional estenda
seu raio de ação por todo o território de seu país.
A exigência de unidade de comando despontou logo em 1869, na
II Conferência Internacional da Cruz Vermelha. Atende a uma razão de
ordem prática, pois o trabalho de promover socorro às vítimas de guerra
requer uma unidade de direção, sob o risco de ineficiência e caos. De fato,
tal qual nas forças armadas, a unidade de direção impõe a coordenação da
ação de socorro. Ademais, o individualismo sem um trabalho hierarquiza-
do acaba causando desperdícios inúteis. Como bem colocou Jean S. Pictet
“
l’amateurisme est la lèpre des institutions charitables
”
35
.
No plano internacional, da mesma forma, a solidariedade no trabalho
das várias Sociedades Nacionais impõe que haja uma só entidade em cada
país, a fim de se maximizar resultados. A pluralidade de instituições dentro de
um país tornaria confusa a relação com as Sociedades Nacionais dos outros
países e com o CICV, empecendo o trabalho conjunto na rede de solidariedade
internacional que caracteriza o trabalho da Cruz Vermelha no mundo.
Consequência disso é também a necessidade de que a Sociedade Na-
cional estenda os seus serviços à totalidade de seu território. Isso facilita a
ajuda humanitária vinda do exterior, pois relega à Sociedade Nacional a
divisão de tarefas dentro de seu próprio território. Aduza-se, a propósito,
que uma Sociedade Nacional da Cruz Vermelha só estenderá sua ação em
outro país com o consentimento da Sociedade deste país, não por reserva de
soberania, mas para evitar descoordenação e desperdício.
7.10. Solidariedade
No capítulo referente ao princípio da humanidade, tratamos da so-
lidariedade entre os homens; aqui, trataremos da solidariedade que une as
Sociedades Nacionais. A solidariedade entre as Sociedades Nacionais advém
não só do fato de todas perseguirem o mesmo fim, mas também de culti-
varem uma ajuda recíproca. Essa solidariedade é que distingue a caridade
individual da obra humanitária desenvolvida pela Cruz Vermelha.
A importância da ajuda solidária entre as Sociedades Nacionais foi res-
saltada desde o início da instituição por Gustave Moynier, um dos seus funda-
dores. Tal necessidade de ajuda recíproca nasceu basicamente entre Sociedades
Nacionais de países em guerra entre si. Havendo prisioneiros e feridos de am-
bos os lados, as Sociedades Nacionais logo concluíram que tratar dos inimigos
35 Pictet, Jean, obra citada, pág. 139.