Background Image
Previous Page  298 / 432 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 298 / 432 Next Page
Page Background

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 263 - 308, Maio/Agosto 2017

298

social. Nessa esteira, ao lado da atuação oficial, fundada na soberania e na justi-

ça, existe outra, espontânea, desinteressada, baseada na caridade.

A função originária das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha

era auxiliar o serviço de saúde das forças armadas. A rigor, trata-se ainda

de uma condição de reconhecimento das Sociedades Nacionais o fato de

serem habilitadas como tal junto às forças armadas de seu país, exceto

naqueles países que não possuem forças armadas. Graças a essa função

auxiliar é que as Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha entraram para o

direito internacional, tendo adquirido a imunidade nos campos de batalha

sob o emblema da cruz vermelha sobre fundo branco, à semelhança do

pessoal sanitário das forças armadas.

Note-se que a Cruz Vermelha não detém o monopólio exclusivo dessa

função auxiliar aos serviços de saúde oficiais. A Ordem de Malta ou os Mé-

dicos sem Fronteiras, por ex., também prestam tais serviços complementares

de saúde. Com o tempo, os serviços de saúde das forças armadas se desenvol-

veram e a Cruz Vermelha deixou de se dedicar exclusivamente a tal função

auxiliar, assumindo atividades próprias, como a administração de hospitais

civis, doação de sangue, escolas de enfermagem e assistência às vítimas de ca-

tástrofes naturais. Cite-se também a assistência aos prisioneiros de guerra e a

manutenção de uma estrutura de busca de desaparecidos, a cargo da Agência

Central de Pesquisas. Algumas atividades, inclusive, a Cruz Vermelha desen-

volve à revelia dos serviços públicos, pois se antecipa aos mesmos.

7.6. Autonomia

A Cruz Vermelha deve possuir uma autonomia suficiente perante os

poderes públicos. Exerce uma função de interesse público e complementar

a do Estado, notadamente a de auxiliar das forças armadas. Nesse sentido,

faz-se necessária uma colaboração tão estreita que, por vezes, desafia sua

autonomia. Seu desafio é justamente conciliar a natureza de instituição de

caridade privada com a disciplina militar exigida em campanha. Isso, po-

rém, não representa uma contradição.

Lembre-se que, desde a sua criação, a Cruz Vermelha permite que as

Sociedades Nacionais se organizem da forma que lhes for mais convenien-

te, desde que observem os princípios fundamentais da instituição, como a

independência e autonomia. E tal autonomia diante dos poderes públicos

deve ser suficiente para que seja mantida a confiança da população

vis-à-vis

sua obra. Os governos, mesmo que majoritários, sempre revelam um aspecto