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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 263 - 308, Maio/Agosto 2017

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sectário em seus atos. Além do mais, em época de guerra, o nacionalismo

inflama a população. Mas a Cruz Vermelha tem de se afastar de tais paixões,

permanecendo serena e imutável.

Indaga-se também se os dirigentes da Cruz Vermelha poderiam

ocupar cargos públicos. Os textos regulamentares pertinentes são mu-

dos a respeito, mas o bom senso não o veda, desde que as opiniões

políticas não influam na obra e desde que não seja afetada a reputação

da Cruz Vermelha. O seu próprio trabalho como auxiliar das forças

armadas põe à prova sua autonomia, uma vez que seus agentes devem

obedecer à disciplina militar. Mas tal obediência não significa que o

pessoal da Cruz Vermelha faça parte das forças armadas, pois possuem

status particular e uniforme distinto.

A própria composição dos quadros dirigentes das Sociedades Na-

cionais desafia também a autonomia da Cruz Vermelha. Frequentemente,

as Sociedades Nacionais, uma vez que prestam um serviço de utilidade

pública, recebem subvenções oficiais, seja na forma de verbas diretas ou

de isenções aduaneiras para os materiais e medicamentos necessários. Ora,

torna-se natural que os Estados exijam algo em troca, como a fiscalização

dos recursos concedidos ou a prerrogativa de indicar seus dirigentes

33

. Nas

monarquias, é comum que membros da família real exerçam cargos hono-

ríficos nas Sociedades Nacionais.

7.7.

Pluralismo

As Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha devem estar abertas a to-

dos os cidadãos de seus países, segundo um critério democrático. O prin-

cípio do pluralismo tem três acepções: o recrutamento indiscriminado, o

pluralismo em sentido estrito e a organização democrática. De acordo com a

primeira acepção, as Sociedades Nacionais devem estar abertas a voluntários

de todo o gênero, sem distinção de raça, sexo, classe, religião, opinião polí-

tica etc. É claro que podem restringir pessoas indesejáveis, eis que o serviço

a ser prestado exige responsabilidades, mas o critério de seleção não deve ser

discriminatório nem sectário.

Quanto ao pluralismo propriamente dito, frise-se que é vantajoso que

a causa da Cruz Vermelha agregue o máximo possível de pessoas, pois a

união faz a força. Não se trata aqui de defender um recrutamento propor-

33 Na própria Cruz Vermelha Portuguesa o seu presidente é nomeado pelo Primeiro Ministro e o Ministro da Defesa

Nacional, conforme proposta de seu Conselho Supremo.