

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 263 - 308, Maio/Agosto 2017
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de cadastramento e de fornecimento de víveres e comida a prisioneiros
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Até então, naquele conflito, era o povo suíço quem estava arcando com o
grosso dessas despesas.
7.4. Voluntariado
A Cruz Vermelha consiste basicamente numa instituição de socorro
voluntário. Vale lembrar o episódio inicial em que Henry Dunant convo-
cou a assistência voluntária das mulheres italianas de Castiglione, a fim de
ajudar os feridos de Solferino, independentemente de sua nacionalidade. A
Cruz Vermelha nasceu assim da ajuda espontânea, desinteressada e voluntá-
ria. As próprias condições de reconhecimento das Sociedades Nacionais exi-
gem que as mesmas sejam reconhecidas pelos seus próprios governos como
“sociedades de socorro voluntárias”.
O voluntariado não significa forçosamente que os colaboradores não
sejam remunerados. O trabalho não remunerado, por mais valioso que seja,
às vezes, enfrenta o problema de ver se exaurir o entusiasmo dos colabora-
dores, por mais boa vontade que tenham inicialmente. E a obra da Cruz
Vermelha não pode sofrer descontinuidade. Dessa forma, o voluntariado
que se espera do colaborador da Cruz Vermelha consiste no fato de este
não buscar lucro, mas colaborar com o ideal da organização. O essencial é
manter o espírito de colaboração, que é a alma da Cruz Vermelha, e não cair
nos vícios de um funcionalismo público em que a máquina burocrática se
torna um fim em si mesmo.
Já quanto aos membros dos Comitês Centrais, não somente o Comi-
tê Internacional, o ideal é que não sejam remunerados. Sua obra com isso
adquire maior autoridade e suas demandas por fundos junto aos governos e
ao público ganham mais credibilidade.
7.5. Complementaridade
Nos países modernos, em princípio, a função de cuidar dos doentes e
feridos cabe ao Estado, eis que este possui os recursos e a autoridade necessários
para as medidas cabíveis. Aliás, a própria guerra é provocada pelos mesmos, não
sendo senão sua obrigação atenuar os males causados. A Cruz Vermelha inter-
vém somente para aliviar os danos. A tarefa a realizar, porém, é bem maior do
que sua capacidade e a mesma somente logra atuar nas lacunas da organização
32 Pictet, Jean, obra citada, pág. 103-104.