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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 263 - 308, Maio/Agosto 2017

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Parcial é aquele que toma partido, em razão de uma prevenção ou preferên-

cia. A imparcialidade, por sua vez, é não ter prevenções nem preferências.

Distingue-se da neutralidade, pois esta é estática e a imparcialidade

imprime uma ação. A rigor, imparcial é aquele que, ao tomar partido, o faz

sem prevenção. Trata-se de uma qualidade pessoal, uma atitude do espírito,

nas palavras de Jean Pictet

25

. Às vezes referimo-nos a um ato imparcial, mas

tal qualidade é mais propriamente de seu autor, que assim a transfere ao seu

ato. A imparcialidade é exigida numa escolha, como por ex. na distribuição

de remédios pela Cruz Vermelha. Pressupõe liberdade de escolha e indepen-

dência. Pressupõe também a existência prévia de regras, a serem aplicadas

sem prevenções ou paixões, de forma objetiva. Requer, por conseguinte, um

esforço intelectual para que o agente se liberte do prisma de sua personali-

dade e ache uma solução justa. Lembre-se que o homem não é forçosamente

um ser razoável; ao contrário, é emotivo e passional.

A imparcialidade retrata uma qualidade interior do agente. Já a igual-

dade se refere ao objeto de sua ação, sendo exterior ao autor do ato. A

igualdade pertence ao domínio dos fins. Se o princípio da igualdade veda

qualquer distinção objetiva entre indivíduos, é a imparcialidade que proíbe

distinções de natureza subjetiva, derivadas da relação própria do agente com

a pessoa interessada na sua conduta imparcial.

Desse modo, o princípio da imparcialidade existe para moldar a con-

duta da Cruz Vermelha na sua ação humanitária. Isso se denota tanto na assis-

tência a vítimas de conflitos armados e catástrofes naturais, quanto na visita

a prisioneiros de guerra, quando deve elaborar relatórios sobre os tratos a que

estão submetidos, tendo em conta as normas das Convenções de Genebra.

6.6. Neutralidade

O presente princípio obriga a Cruz Vermelha a observar a mais estrita

neutralidade no domínio militar, político, confessional e filosófico. Como

bem lembra Jean Pictet

26

, a palavra neutralidade vem do latim “

ne-uter

”, que

significa “nem um, nem outro”. Parte de uma noção essencialmente negati-

va, que é a de não tomar partido a respeito de um conflito. Não contém em

si valor moral algum, pois pode decorrer de motivos elevados ou não, como

o medo, a indiferença, a perspicácia ou simples interesse. A neutralidade só

adquire valor moral quando atende a princípios permanentes, tais como o

amor à paz, o respeito a algum juramento etc.

25 Pictet, Jean, obra citada, cap. 4.

26 Pictet, Jean, obra citada, capítulo 5.