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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 263 - 308, Maio/Agosto 2017

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fundamentais, atribuindo-se a função de zelar pela sua observância. Tais

princípios são: a imparcialidade, a independência política, confessional e

econômica, a universalidade da Cruz Vermelha e a igualdade das Sociedades

Nacionais. Esse sumário,

grosso modo

, passou a constar das condições de

reconhecimento das Sociedades Nacionais e dos princípios fundamentais da

Liga das Sociedades Nacionais da Cruz Vermelha. Foram ainda solenemente

proclamados pela XX Conferência Internacional da Cruz Vermelha, de 1965.

Jean Pictet, em sua obra “

Les principes de la Croix Rouge

” (CICV, Ge-

nebra, 1955), vai mais longe. Distingue os princípios fundamentais, como

aqueles que dão seu caráter próprio à instituição (humanidade, igualdade,

proporcionalidade, imparcialidade, neutralidade, independência e universa-

lidade), dos princípios orgânicos, sendo estes os que dizem respeito à sua

estrutura e atuação [desinteresse, gratuidade, voluntariado, complementarie-

dade (

auxiliarité

), autonomia, pluralismo (

multitudinisme

), igualdade das

Sociedades Nacionais, unidade, solidariedade e previdência (

prévoyance

)].

Não obstante a XX Conferência Internacional da Cruz Vermelha, de

1965, ter proclamado como princípios da instituição a humanidade, imparciali-

dade, neutralidade, independência, universalidade, voluntariado e unidade, pre-

ferimos adotar as suprarreferidas definições de Jean Pictet. Sua enumeração mais

extensa e a distinção entre princípios fundamentais e orgânicos permitem um

estudo mais profundo e técnico do tema, facilitando melhor sua compreensão.

Nesse sentido, para melhor exame da matéria, enumeramos abaixo os princípios

da Cruz Vermelha conforme expostos por Jean Pictet na citada obra.

6.2. Humanidade

O princípio da humanidade é o mais basilar da Cruz Vermelha, do

qual todos os demais dependem. Se a Cruz Vermelha devesse ter um só

princípio, este o seria. Note-se que o mesmo não vem enumerado na sua

já mencionada XX Conferência Internacional, talvez, exatamente, por estar

subentendido, de tão estrutural que é.

O princípio da humanidade pode ser definido como o sentimento

de amor aos homens. A referência aqui à parábola do bom samaritano no

Evangelho é patente e não se pode negar a origem de tal sentimento nas

mentes ocidentais. Mas igual sentimento é encontrado mundo afora, embo-

ra invocando outras referências culturais; sendo certo, o valor é o mesmo.

A noção de humanidade inclui a de caridade, mas também a de bon-

dade, piedade, doçura, generosidade, paciência e clemência. Distingue-se, po-