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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 143 - 158, Maio/Agosto. 2017

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poder nas mãos dos membros da

nobilitas

. As disputas e as glórias sempre

haviam sido a marca da República, mas naquele momento algo novo estava

sendo introduzido: a figura do ditador populista. (Rubicão, 2010:94).

Abandonava-se definitivamente a ditadura legal como forma de pro-

teção da República para encará-la como forma substitutiva do modelo repu-

blicano aristocrático de governo que se perpetuava em Roma.

Neste sentido, para se diferenciar dos antigos reis romanos, Sila

preocupava-se com a sua legitimidade, que continuava a ser mais impor-

tante que o poder puro e simples. Assim, como narra Holland, durante

o debate para punir Mário e os demais membros do seu governo que an-

tecederam Sila, quando um venerando senador lhe disse, face à face, que

um grande homem como Mário jamais deveria ser considerado inimigo

público, Sila reconheceu ao Senador seu direito à dissensão. Em vez de

passar por déspota militar, Sila preferia ser visto como defensor da cons-

tituição romana, o que não retratava a verdade, pois Sila queria perpetuar

seu poder e centralizar o governo romano com a manipulação do Senado.

(ob. cit., pág.95).

A ditadura romana, como modelo de situação excepcional para a

preservação da ordem jurídica – modelo este usado por Agamben para repre-

sentação do estado de exceção hodiernamente –, termina com a assunção do

posto por Sila de ditador perpétuo. A sucessão posterior de César ao mesmo

cargo, como já visto, ensejará o fim da república e a transmudação do siste-

ma político romano em um Império.

Deveras, concomitantemente à expansão territorial, as transforma-

ções socioeconômicas e político-militares possibilitaram o desenvolvimento

de um sistema de economia imperial (Shiavone, 2005, 88), conforme

ensina Mendes (2009:29).

A incompatibilidade entre o governo republicano e o aparato admi-

nistrativo centralizado no Senado, nos magistrados e nas assembleias, e a ma-

nutenção das relações de poder lideradas pelos patronos da

res publica

, deno-

minados

princeps civitatis,

assim como a passagem da condição de Roma de

cidade-Estado para uma Cosmópolis, levaram à falência das instituições repu-

blicanas, na medida em que se consolidava a forma de poder pessoal militar, a

ditadura dos Generais romanos, em torno da figura do

princeps

.

Surgia a noção de

imperium

com duplo significado político e ter-

ritorial, a qual foi apropriada pelo mundo moderno. O termo passa a ser

sinônimo de

urbs, civitas

e

res publica

(Mendes, 2009: 28).