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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 143 - 158, Maio/Agosto. 2017

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Destaque-se que Montesquieu atribui como causas da queda do Im-

pério romano a corrupção em Roma, o crescimento do império e o distan-

ciamento entre o exército e o povo romano. Todas as causas são imbricadas,

pois o aumento da corrupção deu-se em razão do crescimento da população

com a adesão dos povos conquistados ao território romano. A necessidade

de financiamento das campanhas militares e da manutenção do poder nas

mãos de poucos governantes deu ensejo ao aumento da corrupção eleitoral.

Ademais, os exércitos eram comprados e se submetiam à vontade de seus

comandantes que permitam a retirada dos bens dos vencidos em proveito de

seus soldados. Não existia mais um “combate pela pátria”.

Não se combatia mais em nome da República e sim pelos generais

que não tinham, necessariamente, uma ligação com aquela forma de gover-

no. Muito ao contrário, os generais buscavam o prestígio perante suas tropas

para serem temidos em Roma e ocuparem o posto de ditadores perpétuos,

como foi com Sila, Pompeu e César.

Os três autores, Maquiavel, Rousseau e Montesquieu, viam na Re-

pública romana o espaço político e administrativo necessário para que os

cidadãos vivessem na plenitude das suas liberdades. Ocorre que esta noção

de liberdade, para os autores modernos, estava diretamente vinculada com

a permanência das tradições romanas e a ideia de manutenção da coisa pú-

blica. A liberdade enaltecida por eles era a mesma a que Cícero exaltou: a

liberdade com comprometimento com a coisa pública.

Todavia, esta liberdade não tinha uma vinculação com um siste-

ma democrático de governo, na medida em que a República romana

jamais foi uma democracia.

Fustel de Coulanges adverte que constitui erro singular, entre todos

os erros humanos, acreditar-se que nas cidades antigas o homem desfrutava

de liberdade. Ele nem tinha noção do que era isto. Não acreditava que podia

existir detendo direitos em face da cidade e de seus deuses. Veremos em breve

que, as formas de governo foram substituídas diversas vezes, mas a natureza

do Estado permaneceu essencialmente a mesma, sua onipotência não tendo

diminuído em absoluto.

Deveras, para Coulanges, o governo chamava-se alternadamente

monarquia, aristocracia, democracia, mas nenhuma destas revoluções

concedeu aos homens a verdadeira liberdade, a liberdade individual. Ter

direitos políticos, votar, nomear magistrados, poder ser arconte, a isto

se chamava liberdade, mas com tudo isto não foi o homem menos servo