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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 143 - 158, Maio/Agosto. 2017

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políticas. Saber como nasce a República romana e como esta se desenvolve

em seus pontos cardeais.

Por estes motivos, recorre-se à história do próprio nascimento e da

queda do império romano para se compreender a vocação de concentração

do

imperium

na figura de uma pessoa, como forma de manutenção do

status quo

político-administrativo romano. O modelo militar do qual se ex-

traiu a primeira administração de Roma, no período da realeza, acompanha-

rá a evolução da cidade, inclusive suas disputas sociais internas. A abertura

do exército para os plebeus, como vimos, foi um dos motivos de insatisfação

dos patrícios que ensejou a queda da realeza

Assim, o conhecimento da realidade política e social romana é funda-

mental para qualquer tipo de comparação entre os institutos antigos e mo-

dernos. A apropriação do termo ditadura “constitucional” pelo pensamento

político moderno, ou mesmo a vinculação do estado de exceção (estado de

sítio e de emergência) previsto nas constituições atuais com o modelo roma-

no, só poderá ser feita dentro de um quadro comparativo que leve em conta

as respectivas realidades históricas.

Com efeito, a proteção da república, em Roma, tinha um caráter

quase espiritual, pois colocava o homem diante da morte (pelo

senatus con-

sultum ultimum

qualquer do povo poderia tirar a vida de quem ameaçasse a

república) para a defesa daquilo que seria a grande virtude humana, que era

o coletivo (a

res publica

). A ditadura temporária era o modelo de garantia

de manutenção do

status quo

.

As ditaduras modernas assemelham-se ao modelo cesarista im-

posto após o fim da república e jamais com a chamada ditadura tem-

porária constitucional.

Os modernos se apropriaram indevidamente da ideia de ditadura

constitucional romana para justificarem medidas que não se assemelhavam

a ela. Roma tinha nas suas origens a preservação do

imperium

concentrado

nas mãos de uma só pessoa, mas esta vocação somente será plenamente rea-

lizada com o fim da república.

O exemplo da ditadura constitucional romana foi usado pelos revo-

lucionários franceses para qualificar o governo voltado para a consecução

da paz, superação da agitação revolucionária e preparação da igualdade so-

cial. Na esteira dos jacobinos, primeiro Marx e depois Lênin propuseram,

de igual forma, a ditadura do proletariado, em substituição à ditadura da

burguesia no capitalismo, como fase socialista preliminar da transformação