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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 20, n. 79, p. 143 - 158, Maio/Agosto. 2017

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populum

e o

imperium militae

, que era o comando militar exercido para

além dos muros, e, enquanto tal, não submetido a limites constitucionais.

(Bobbio, 2012: 159). Voltava, assim, o cônsul, no exercício do cargo de dita-

dor, a exercer o

imperium

na sua plenitude, sem qualquer tipo de limite. Tal

como um rei, mas com limite de tempo no exercício do seu poder central.

A ditadura surgia então como uma “solução legal” e temporária para

a manutenção da estrutura de poder da República, sendo que a constituição

mista assegurava aos cônsules um poder que, mesmo que limitado pelo Senado

e pelo povo, garantia sua supremacia sobre os demais poderes da República.

Ademais, o medo do fim da república, por mais paradoxal que isto

possa parecer, empurrava os romanos para as mãos da monarquia, o que

acabou ocorrendo com o início do império. Será por meio do exercício

do

imperium,

sobre todo o mundo romano, que a monarquia (temperada)

retornará a Roma. Em uma palavra, a realeza foi extinta, mas mantida em

potência na figura do ditador temporário que ressuscitava o

imperium

real.

Este modelo de ditadura foi adotado pelos generais que ocuparam o

lugar dos ditadores temporários e, por fim, pelo

Princeps

que assumirá o

comando de Roma ao fim da república (Mendes, 2009: 27).

A ditadura romana, destarte, traduzia-se no exercício de uma magis-

tratura excepcional, através da qual se restabelecia o poder de império da

realeza nas mãos de um “rei” com poderes ilimitados, porém temporários.

O império será a perpetuação deste poder na figura carismática de um líder

que represente a tradição romana e a força popular. Este híbrido de monar-

quia e república, que foi o império, existia no subconsciente romano, que

preservava a força militar como ideia de poder estatal (

imperium

).

A manutenção da república através do uso da força enfeixada nas

mãos de apenas um homem, em razão do

senatus consultum ultimum

,

invocado pelo Senado, foi utilizada, sobretudo no início da república

romana. Ao final da república, principalmente após as guerras púnicas,

o modelo de ditadura se aproximará ao poder real, pois os generais que

disputarão a supremacia sobre Roma tentarão estender ao máximo de

tempo possível seus poderes.

Assim, por exemplo, foi conferido a Pompeu o

imperium infinitum,

termo com o qual se indicou o novo poder atribuído em 67 a.C. em razão

da guerra contra os piratas (

Lex Gabinia

). Pela primeira vez, se conferia a

um privado (um cônsul) um

imperium militare straordinario

e de natureza

ilimitada (seja pela duração, seja pela extensão territorial).