

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 195 - 204, out. - dez. 2016
197
Apesar de a contemporaneidade trazer à tona discussões sobre o
modelo tradicional de homem e o surgimento de “novas masculinidades”,
permanece entranhada na sociedade uma imagem de homem baseada na
força, na virilidade, em um papel de chefe e provedor da família, com difi-
culdade em lidar com questões afetivas - construídas por máximas do tipo
“homem não chora” - e que por isso pode ter um comportamento pau-
tado pela agressividade, principalmente em relação ao gênero feminino.
Ainda segue em vigor esse modelo de “masculinidade hegemôni-
ca”, perseguido como um ideal pelos homens e que, no caminho para tal,
sofre desvios que levam a uma assimetria de poder entre os gêneros e,
consequentemente, à produção da violência contra as mulheres e contra
todos aqueles que se diferenciam do padrão masculino.
A violência não se reduz à rejeição irracional ou ódio em relação
às mulheres e aos homossexuais, pois também é uma manifestação que
qualifica o outro como contrário e inferior. Devido à sua diferença, esse
outro é excluído de sua humanidade, dignidade e personalidade.
Segundo o Relatório de Violência Homofóbica no Brasil (2016), en-
tre os tipos de homofobia podem‐se apontar a homofobia institucional
(formas pelas quais instituições discriminam pessoas em função de sua
orientação sexual ou identidade de gênero presumida) e os crimes de
ódio de caráter homofóbico, ou seja, violências, tipificadas pelo Código
Penal, cometidas em função da orientação sexual ou identidade de gêne-
ro presumidas da vítima. A homofobia presente na estrutura da sociedade
brasileira vitimiza não apenas a população LGBTI cujas oportunidades são
limitadas pelo preconceito, mas qualquer indivíduo em que a identidade
de gênero seja percebida como diferente da heterossexual.
Encontra-se enraizada nas sociedades a suposição de que a condi-
ção de gênero decorre de uma natureza biológica a qual impõe direitos
e deveres diferenciados a homens e mulheres. Para Blay (2014), as teo-
rias feministas fundadas na história mostraram que diferenças profissio-
nais, valores, comportamentos são moldados culturalmente e se trans-
formam ao longo do tempo. Tendo a condição de gênero base nessas
tradições históricas e sendo esses comportamentos construídos, podem
eles, então, ser mudados. A violência de gênero tem uma complexa fun-
damentação em valores patriarcais, sendo base para a manutenção do
exercício do poder masculino, e se instrumentaliza por meio de relações
de dominação. Os homens são socializados acreditando que as mulhe-