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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 195 - 204, out. - dez. 2016

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Apesar de a contemporaneidade trazer à tona discussões sobre o

modelo tradicional de homem e o surgimento de “novas masculinidades”,

permanece entranhada na sociedade uma imagem de homem baseada na

força, na virilidade, em um papel de chefe e provedor da família, com difi-

culdade em lidar com questões afetivas - construídas por máximas do tipo

“homem não chora” - e que por isso pode ter um comportamento pau-

tado pela agressividade, principalmente em relação ao gênero feminino.

Ainda segue em vigor esse modelo de “masculinidade hegemôni-

ca”, perseguido como um ideal pelos homens e que, no caminho para tal,

sofre desvios que levam a uma assimetria de poder entre os gêneros e,

consequentemente, à produção da violência contra as mulheres e contra

todos aqueles que se diferenciam do padrão masculino.

A violência não se reduz à rejeição irracional ou ódio em relação

às mulheres e aos homossexuais, pois também é uma manifestação que

qualifica o outro como contrário e inferior. Devido à sua diferença, esse

outro é excluído de sua humanidade, dignidade e personalidade.

Segundo o Relatório de Violência Homofóbica no Brasil (2016), en-

tre os tipos de homofobia podem‐se apontar a homofobia institucional

(formas pelas quais instituições discriminam pessoas em função de sua

orientação sexual ou identidade de gênero presumida) e os crimes de

ódio de caráter homofóbico, ou seja, violências, tipificadas pelo Código

Penal, cometidas em função da orientação sexual ou identidade de gêne-

ro presumidas da vítima. A homofobia presente na estrutura da sociedade

brasileira vitimiza não apenas a população LGBTI cujas oportunidades são

limitadas pelo preconceito, mas qualquer indivíduo em que a identidade

de gênero seja percebida como diferente da heterossexual.

Encontra-se enraizada nas sociedades a suposição de que a condi-

ção de gênero decorre de uma natureza biológica a qual impõe direitos

e deveres diferenciados a homens e mulheres. Para Blay (2014), as teo-

rias feministas fundadas na história mostraram que diferenças profissio-

nais, valores, comportamentos são moldados culturalmente e se trans-

formam ao longo do tempo. Tendo a condição de gênero base nessas

tradições históricas e sendo esses comportamentos construídos, podem

eles, então, ser mudados. A violência de gênero tem uma complexa fun-

damentação em valores patriarcais, sendo base para a manutenção do

exercício do poder masculino, e se instrumentaliza por meio de relações

de dominação. Os homens são socializados acreditando que as mulhe-