

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 195 - 204, out. - dez. 2016
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e ao masculino as funções nobres e às mulheres e ao feminino as tarefas
e funções de pouco valor. Essa visão de mundo baseada sobre o gênero
se mantém e é regulada pelas variadas violências às quais as mulheres
são submetidas, como a violência masculina doméstica, os estupros e a
submissão nas relações de trabalho, preservando sempre os poderes que
se atribuem coletivamente e individualmente aos homens.
Semelhante à visão apresentada pelo texto de Nascimento (2006),
para Welzer-Lang (2000) a questão da dominação masculina não é cons-
truída apenas na relação social entre os sexos homem/mulher, mas tam-
bém entre os grupos de homens em seu processo de socialização. A “casa
dos homens” é um conjunto de espaços de construção da homossociabi-
lidade (como a escola, clubes, lanchonetes, academias...), onde os jovens
aprendem a se diferenciar das mulheres, a “serem homens”, a sofrer sem
reclamar, a usar da violência para a vitória, e são normalmente guiados
por homens mais velhos (pais, professores, padres, artistas...) que incu-
tem em seus jovens aprendizes suas masculinidades.
Assim, a construção do masculino é, ao mesmo tempo, submissão
ao modelo e obtenção de privilégios do modelo, uma vez que as relações
entre os homens são estruturadas na imagem hierarquizada das relações
homens/mulheres, nos papéis de dominadores versus dominadas. Mas as
relações sociais de sexo se exercem de maneira transversal ao conjunto da
sociedade, fazendo com que homens e mulheres sejam atravessados/as
por elas. Nesse sentido, os homens que não mostram sinais redundantes
de virilidade são associados às mulheres e/ou a seus equivalentes sim-
bólicos: os homossexuais. É nessa perspectiva que o Welzer-Lang propôs
que se definisse a homofobia como a discriminação contra as pessoas que
mostram, ou a quem se atribuem algumas qualidades (ou defeitos) atri-
buídas ao outro gênero (Idem, p. 465).
Outro importante conceito apresentado pelo autor é o de heteros-
sexismo, a discriminação e a opressão baseadas em uma distinção feita
a propósito da orientação sexual. O heterossexismo é a promoção inces-
sante, pelas instituições e/ou indivíduos, da superioridade da heterosse-
xualidade e da subordinação simulada da homossexualidade. Mas não se
limita apenas à homossexualidade. Toda forma reivindicada de sexualida-
de que se distingue da heterossexualidade é desvalorizada e considerada
como diferente da
doxa
de sexo que se impõe como modelo único.