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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 188 - 194, out. - dez. 2016

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em um grau maior ou menor, mais ou menos atuantes. E a minha dúvida

era como se dava essa insurgência. Aos poucos descobri que ela não é

estanque e nem igual, as motivações são as mais variadas possíveis. É a

insurgência da indignação, a insurgência da necessidade, a insurgência da

convicção, a insurgência do desconforto, a insurgência dos exemplos que

temos em casa, a insurgência dos que herdamos, a insurgência do direito.

E o direito, por ser entendido por nós como uma garantia, uma prerro-

gativa e não um privilégio, assim como nossa prerrogativa de ser insur-

gentes, de nos levantarmos contra, começou a soar redundante - direito

insurgente. Ficamos só com a insurgência. E a insurgência que vi nascer no

domingo mostrou-me o que não parecia claro: a insurgência do coletivo,

as mãos que deram para que fosse possível, mais fácil, menos dolorido o

levantar-se contra. Vi surgir a insurgência no apoio. A insurgência na espe-

rança. A insurgência da solidariedade, preocupada com os seus e com os

outros. A insurgência dos movimentos populares.”

Delmo de Oliveira (Vila Autódromo): "Tudo que fizeram aqui foi

uma guerra social. As pessoas pensam que a gente tá brigando por causa

dessas paredes, as paredes não são nada, o que vale é o que a gente tem

dentro da cabeça, o que nós somos, o que representa a não aceitação da

compra do poder público pela especulação imobiliária. A justiça não se

preocupa em impedir a injustiça, é mais fácil demolir e pedir indenização.

Tudo se resume em dinheiro, e não na justiça."

Neste momento de estarrecedor retrocesso político e humano, os

juízes precisam aprender a olhar para a História e para a vida, e cumprir o

seu compromisso ético com a garantia dos Direitos Humanos. A luta dos

juízes é tentar escapar do enclausuramento dogmático-ideológico, para

não viver e morrer como o juiz Iván Ilitch. O personagem de Tolstói, nos

momentos dolorosos que antecederam a sua morte, descobriu que a sua

vida fora um engodo, uma mentira, "que ele vivera toda a sua vida não

como deveria tê-la vivido, que tudo aquilo estava errado, que tudo aquilo

foram um horrendo, um enorme equívoco."