

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 195 - 204, out. - dez. 2016
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no espaço privado e os agressores são (ou foram) namorados ou maridos/
companheiros.
A homofobia se manifesta nas sociedades de variadas formas, que
abrangem muito mais do que as violências tipificadas pelo Código Penal.
Apesar de ser o evento mais brutal em uma escala de violações, o homicí-
dio é apenas uma entre várias outras violências consideradas “menores”,
como discriminações e agressões verbais e físicas dos mais variados tipos.
De acordo como o Relatório de Violência Homofóbica no Brasil (2016), essa
situação se torna ainda mais preocupante ao se levar em conta a subnotifi-
cação de dados relacionados a violências em geral e a este tipo de violência
em particular. E, apesar disso, os números apontam para um grave quadro
de agressões homofóbicas no Brasil: no ano de 2013, foram reportadas 9,31
violações de direitos humanos de caráter homofóbico do total de violações
no dia. A cada dia, durante o ano de 2013, 5,22 pessoas foram vítimas de
violência homofóbica do total de casos reportados no país
2
.
São muitas as tentativas de se compreender as motivações que le-
variam a essas estatísticas alarmantes de crimes e demais violações de
direitos sobre essas populações. Explicar a continuidade da violência, a
despeito dos avanços legais e institucionais para o seu enfrentamento,
exige a observação do problema por novos ângulos. Um questionamento
fundamental que tem que ser inserido nos estudos sobre a violência de
gênero e a homofobia é a respeito do que levaria os homens a agirem
dessa forma, a usarem, intencionalmente, sua força física e/ou seu poder
para constranger, diminuir ou aniquilar mulheres e homossexuais.
A proposta deste artigo é a de apresentar um elemento que tem
sido pouco abordado na literatura sobre o tema, a construção social dos
homens e das masculinidades.
2 - AS MASCULINIDADES DOS HOMENS
Entende-se a “masculinidade” como a construção social de um reper-
tório de atuação para os homens. É uma construção complexa que envolve
não apenas aspectos subjetivos, mas algo que se constrói coletivamente,
por meio de códigos, discursos, ideologias e práticas cotidianas, que afetam
instituições como a família, a escola, os governos e suas políticas públicas.
2 Relatório de Violência Homofóbica no Brasil: ano 2013. Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério
das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos. Brasília, 2016. Disponível em:
http://www.sdh.gov.br/assuntos/lgbt/dados-estatisticos.