

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 195 - 204, out. - dez. 2016
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res são sua propriedade “para a vida e para a morte, para a tortura e
para o prazer” (Idem, p. 16).
Nascimento (2014) propõe uma reflexão sobre o tema da violência
de gênero a partir de experiências de intervenção com grupos de homens
jovens. O ponto de partida é o questionamento sobre qual o papel dos
homens e das masculinidades no enfrentamento da violência contra as
mulheres. Seria a punição a única forma de combater esse problema? Ou
a solução passaria pela criação de políticas públicas que incorporassem
a dimensão das masculinidades em sua busca pela igualdade de gênero
e fim dos preconceitos e da violência? O autor incorpora dois elementos
novos nesses questionamentos, o papel dos “grupos de homens” que tra-
balham com homens autores de violência contra as mulheres e o recorte
de juventude.
O autor afirma que a masculinidade e a feminilidade representam
metáforas de poder e de capacidade de ação que orientam valores e prá-
ticas sociais de homens e mulheres (Idem, p. 16). Mas Nascimento não
pretende, em seu texto, tratar essa relação simplesmente como do tipo
algoz/vítima, mas sim relativizá-la, observando sua complexidade na me-
dida em que acarreta graves consequências para a vida das mulheres e
também dos homens.
Os jovens, principalmente, são influenciados pela construção de
uma ideologia machista que procura moldar seu comportamento e aque-
les que não a absorvem costumam ter sua virilidade e masculinidade
questionadas. Assim, a presença da violência de gênero e de identidade
sexual – enquanto manifestação de poder e dominação – encontra-se for-
temente marcada na população masculina jovem entre 15 e 24 anos.
3 - A CONSTRUÇÃO HISTÓRICA DAS MASCULINIDADES
Podemos nos apoiar na história e na filosofia para pensarmos em
que base arquetípica foi construída a relação entre o masculino e o fe-
minino e as masculinidades. Ao remontar aos seus lugares na estrutura
social da Antiguidade, da Idade Média e da Modernidade, percebemos
que essa base permanece, em sua essência, até os dias atuais.
Brasete (2006) demonstra que a construção dos papéis sociais de
homens e mulheres pode ser revista a partir de uma obra considerada
inaugural da literatura ocidental, a
Odisseia de Homero
. Escrita provavel-
mente no fim do século VIII a. C. o poema épico é, em parte, uma sequên-