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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 195 - 204, out. - dez. 2016

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(1996), “Uma grande quantidade de superstições até então dispersas con-

vergiu para esta nova imagem das bruxas, que era a imagem de uma mulher

má, aliada do diabo e enlaçada a ele através de um pacto, cuja tarefa era a

derrubada da cristandade”. Foram os teólogos do século quinze que aper-

feiçoaram os elementos que ainda faltavam à imagem “definitiva” da bruxa:

o pacto com o diabo e a realidade dos poderes mágicos. Foi uma revolução

teológica e jurídica que inaugurou a “caça às bruxas’” (

Ibid

. p. 6). Em 1484

foi publicado por frades dominicanos o livro mestre da Inquisição, o

Mar-

telo das Feiticeiras

(

Malleus Maleficarum

), um manual para identificação

e eliminação das bruxas no qual são descritas suas características, rituais,

magias e, principalmente, a forma como caçá-las e condená-las.

Nos dois períodos históricos brevemente revistos, Antiguidade e

Idade Média, apresentamos como teve início a construção dos arquéti-

pos da masculinidade e da imagem do feminino como o inimigo a ser en-

frentado, os perigos e obstáculos a serem vencidos, e a mulher como a

responsável por trazer para os homens todas as pestes, desgraças e que,

por isso, deve ser eliminada. São visões construídas por uma sociedade

misógina, que nega a existência plena do corpo e da alma das mulheres.

Negação essa que, sob formas mais ou menos sutis, permanece como

mancha ainda hoje.

Na Modernidade podemos encontrar, entre os estudos fundado-

res do campo da Antropologia do Corpo, obras como a de Marcel Mauss

(1936) que, em

As Técnicas Corporais

, parte da premissa de que toda a

expressão corporal era aprendida, sendo o resultado de uma soma de

seus aspectos biológico, social e psicossocial, fazendo do homem um ser

total. Nesse sentido, não existiria um corpo que pudesse ser encontrado

em um “estado natural”, pois todo corpo seria uma matéria bruta na qual

o homem e sua cultura moldam o seu mundo, e também a partir da qual

esse mundo é moldado.

As técnicas corporais seriam, então, as maneiras pelas quais os ho-

mens, tradicionalmente, se servem de seus corpos. O autor partiu da per-

cepção de que os modos de caminhar, de nadar, de olhar, são específicos

de sociedades determinadas, e são também específicos de um tempo de-

terminado em uma mesma sociedade. E isso acontece com toda atitude

corporal, cada sociedade tendo hábitos que lhe são próprios.

Essa transmissão ocorreria por meio da educação, entendida por

Mauss como uma imitação prestigiosa. Os homens, crianças ou adultos,