

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 132 - 156, out. - dez. 2016
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Cabe novamente ressaltar o quanto a repressão feita pelo governo
militar foi importante na criação do movimento sem terra. A insistência
em deixar estagnada a reforma agrária só fez crescer a luta camponesa. A
implementação da agroindústria como modelo de desenvolvimento eco-
nômico, ao invés de enfraquecer a movimentação no campo, reforçou a
luta, nascendo com isso o maior movimento camponês da história, o Mo-
vimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
A Comissão Pastoral da Terra, através da organização de diversos
encontros regionais entre os principais líderes da luta camponesa, conse-
gue realizar o primeiro encontro nacional dos Sem Terra, que ocorreu no
Estado do Paraná, em Cascavel, nos dias 20, 21 e 22 de janeiro de 1984.
Esse foi o marco de nascimento do Movimento dos Trabalhadores Rurais
Sem Terra. Estava nesse momento fundado um movimento de âmbito na-
cional com a finalidade de luta pela terra, pela reforma agrária e principal-
mente pelo reconhecimento de uma demanda social até então esquecida
e ignorada por grande parte da comunidade brasileira.
Este movimento, com o intuito de dar efetividade a sua luta, cria
como instrumento de suas reivindicações as ocupações coletivas da terra
através dos apossamentos, uma vez que desde 1850 foi introduzido o pre-
ço como única forma de aquisição da propriedade.
Um ano após a criação do MST é apresentado à sociedade o Pla-
no Nacional de Reforma Agrária. Tal plano só conseguiu desapropriar, em
04 anos, 10% do previsto, e mesmo assim porque ocorreram inúmeras
pressões dos Sem Terra, que intensificaram suas ocupações. A maior re-
sistência às ocupações realizadas pelo MST foi realizada pela jovem União
Democrática Ruralista, a UDR, movimento organizado pelos latifundiários
com o intuito de defender a manutenção do latifúndio.
A UDR, que, no processo constituinte, contava com um considerá-
vel número de representantes no Congresso Nacional, foi uma das gran-
des causadoras das modificações feitas na emenda popular da Reforma
Agrária, invalidando um verdadeiro projeto que poderia vir a solucionar a
questão agrária brasileira.
O movimento pela reforma agrária sofreu considerável enfraque-
cimento quando foi eleito para presidente, em 1989, Fernando Collor de
Mello, ferrenho defensor do latifúndio. Assim, as repressões às ocupações
aumentaram, com ampla utilização de força policial e principalmente com
uma forte campanha de criminalização dos movimentos de luta pela terra,
quando as ocupações seriam tratadas como invasões, negando a esses mili-
tantes o reconhecimento recíproco que se espera de uma demanda legítima.