

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 132 - 156, out. - dez. 2016
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da república, com suas injustiças e violências contra os pobres do campo.
Era basicamente uma monarquia religiosa e igualitária
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.
Assim como em Canudos, os camponeses do Contestado foram
derrotados pelas forças oligárquicas. Em ambos os movimentos podemos
perceber a representação de uma ameaça à ordem social imposta, o que
demonstra o enorme interesse dos titulares do poder político e econômi-
co em reprimi-los.
4 - AS LIGAS CAMPONESAS
As Ligas Camponesas foram o primeiro foco de luta concreta pela
reforma agrária. Este movimento ocorreu no nordeste brasileiro na déca-
da de 1950.
Com o fortalecimento das Ligas, ganha corpo o ideal de uma distri-
buição justa de terras, tanto nas cidades, através do movimento sindical,
quanto no campo, com a recuperação da autoestima do trabalhador rural.
A legitimidade e importância do movimento são reconhecidas a partir da
forte repressão que sofreu, sendo uma das principais causas do Golpe
Militar de 1964, devido ao grande foco que deu para a Reforma Agrária.
Para melhor compreensão desse movimento faz-se necessária a
percepção do grande valor dado à terra dentro do contexto social do país
à época. A terra substituiu a importância anteriormente dada ao escravo,
sendo a principal forma de dominação e também de divisão entre os fa-
zendeiros e camponeses.
No nordeste brasileiro, antes da segunda grande guerra, a cana-
-de-açúcar, principal produto da região, teve uma crise em sua produção.
Esse momento faz com que os senhores de engenho sejam obrigados a ar-
rendarem suas terras a foreiros para que assim possam viver nas cidades.
Isso ocorreu até 1939, pois, com o início da guerra, o preço da cana volta
a subir, fazendo com que os proprietários da terra expulsassem os foreiros
de suas propriedades para que pudessem voltar a produzir. Os foreiros
que não foram expulsos foram obrigados a destruir qualquer cultura que
não fosse de cana.
Entre 1945 e 1955, os foreiros que não foram expulsos assumiram
a posição de trabalhadores dos senhores de engenho, tendo compara-
tivamente com os trabalhadores de fora da fazenda o seu salário bem
reduzido. LIGIA SIGAUD define bem este momento quando expõe que os
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Ibid
, p. 57.