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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 132 - 156, out. - dez. 2016

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militar tinha como finalidade a reestruturação da propriedade da terra

como forma de consolidar o meio de produção capitalista

21

.

Durante anos o Estatuto da Terra ficou esquecido, só retornando à

discussão política em alguns focos da vida nacional, quando logicamente

era de real interesse dos militares. Percebe-se a utilização dessa lei para

institucionalizar a colonização de áreas vazias no país, como a Amazônia,

ou então para garantir a venda de terras públicas às multinacionais, que

tiveram inúmeros benefícios para se estabelecerem no campo brasileiro.

No final do governo militar, percebe-se um aumento da insatisfação

camponesa no que tange à reforma agrária, o que faz ressurgir inúmeros

focos de luta pela terra em todo território nacional.

Mesmo após a Ditadura Militar, o Estatuto da Terra continuou sen-

do usado de forma burocrática, sem comprometimento com a reforma

agrária. Pode-se constatar que o plano de reforma traçado por este dis-

positivo nunca foi cumprido como deveria. O Estatuto da Terra era tão

inovador na questão agrária, que até mesmo a constituinte de 1987 repre-

sentou um verdadeiro retrocesso no tema.

6 - O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA – MST

Após o regime militar, no período da redemocratização e durante a

constituinte, a emenda popular que tratava da reforma agrária sofreu pro-

fundas modificações, atuando apenas de forma decorativa no novo texto

constitucional. Diante disso, a ação política foi a única forma encontrada

para uma busca efetiva de democratização da terra e reconhecimento de

tais demandas por parte do restante da sociedade. É nessa conjuntura

que surge no Brasil o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra,

com um ideal de luta concreta pela Reforma Agrária e melhoria das con-

dições de vida no campo.

Antes da análise desse movimento social, imprescindível observar

que nesse momento histórico o campo é um local onde os trabalhadores

se mobilizam para lutar por seus direitos, as comunidades rurais torna-

ram-se verdadeiros espaços democráticos. É neste contexto que a igreja

católica, com base nos ensinamentos da Teologia da Libertação, cria em

1975 a Comissão Pastoral da Terra. A CPT, como é conhecida, exerceu seu

trabalho nas comunidades rurais e também nas paróquias das cidades, se

tornando uma grande articuladora de vários movimentos camponeses,

dentre eles o MST. Promovia debates, reuniões, encontros e diversas ou-

tras atividades de organização e unificação do trabalhador rural e urbano.

21

Ibid

, p. 02.