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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 132 - 156, out. - dez. 2016

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camponeses, resistindo assim à expropriação e expulsão da terra, já que

os grandes proprietários se recusavam a tornar efetiva uma política digna

de trabalho assalariado e a sociedade negava a essas pessoas o reconheci-

mento de suas demandas, bem como o seu próprio modo de vida.

As Ligas tinham como principal finalidade a reforma agrária, pro-

movendo encontros em todo território nacional, criando uma verdadeira

conscientização de todo o país para o problema da má distribuição da

terra. A principal forma de ação das Ligas era a resistência camponesa na

terra e também o movimento de ocupações.

Até este momento, as Ligas ou qualquer outro projeto nacional de

reforma agrária, não tinham a rigor uma forma definida de luta, mas isso

não impediu que os latifundiários ficassem temerosos em perder seu mo-

nopólio sobre a terra, assim como afirma JOSÉ DE SOUZA MARTINS no

trecho: “

A revolução camponesa surgiu muito mais definida no temor dos

seus opositores de direita e de esquerda daquela época

18

”.

É nesta conjuntura de luta pela terra que, em 1964, o presidente

João Goulart é deposto através de uma aliança política feita por diversos

setores da elite política e econômica, tendo como um dos principais moti-

vos o medo de uma reforma agrária fora dos moldes previstos pelos nos-

sos latifundiários, que priorizavam a agricultura capitalista em detrimento

da agricultura camponesa.

O medo das nossas elites gerou o rompimento do sistema político

democrático com ápice no comício da Central do Brasil em 13 de março de

1964, no qual o presidente João Goulart anunciou o envio ao Congresso

Nacional de um projeto de lei de Reforma Agrária. O projeto gerou um

descontentamento dos defensores do latifúndio, pois estabelecia o tama-

nho máximo de mil hectares para a propriedade rural e a consequente

desapropriação de todas as fazendas acima deste limite, ao longo de 100

km de cada margem de todas as estradas federais. Esse projeto não pros-

seguiu diante do Golpe Militar de 1964.

5 - O GOVERNO MILITAR E O ESTATUTO DA TERRA

No dia 30 de novembro de 1964, o Marechal Castelo Branco pro-

mulgou a Lei n° 4.504, mais conhecida como Estatuto da Terra. Foi a pri-

meira lei brasileira de reforma agrária, que, devido à conjuntura política

da época, não foi debatida no Congresso Nacional. Para um melhor en-

tendimento do que representou o Golpe Militar e a criação do Estatuto da

18 MARTINS, José de Souza. Ob. Cit., p. 92.