

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 132 - 156, out. - dez. 2016
142
próprios foreiros foram gradativamente sendo expulsos das usinas, con-
vertendo-se em mão de obra temporária
15
.
O processo do camponês ao longo da história brasileira pode ser
visto através de uma análise da cana-de-açúcar no Nordeste. Até o mo-
mento em que esse camponês se torna um trabalhador assalariado, ele é
visto como a única forma de substituição do trabalho escravo, morando
nas fazendas, exercendo trabalho gratuito ou muito barato. Sua pequena
renda só permitia que pagassem a terra que viviam e também plantassem
um pouco para sua subsistência
16
.
Neste momento de expulsão dos foreiros das terras anteriormen-
te concedidas em arrendamento pelos produtores de cana ou então de
exploração de seu trabalho, que surge no ano de 1955 no nordeste uma
associação de foreiros denominada Sociedade Agrícola e Pecuária dos
Plantadores de Pernambuco, conhecida como Liga Camponesa.
Surge nesse momento uma divisão na história da luta camponesa
no Brasil. Até a década de 1940 do século XX, a manifestação de luta exer-
cida pelos camponeses era feita através dos movimentos messiânicos
17
. A
partir da década de 1950, mais precisamente em 1955, as Ligas Campo-
nesas e os Sindicatos são o grande instrumento de luta dos trabalhadores.
Desde a década de 1940 até o golpe militar em 1964, os camponeses pro-
curaram se organizar e encontraram diversas formas de luta, fazendo com
que a exploração de seu trabalho fosse sempre combatida e buscando
acabar com qualquer forma de dominação exercida pelos donos da terra.
As Ligas Camponesas se espalharam por todo Nordeste, recebendo,
em um primeiro momento, o apoio do Partido Comunista e a forte oposi-
ção por parte da igreja católica, que posteriormente seria sua aliada.
Os camponeses brasileiros viviam uma época de grande organiza-
ção política, já que os posseiros eram retirados da terra pelos grandes pro-
prietários ou tinham sua força de trabalho expropriada, garantindo com
isso, apenas um mínimo para sua subsistência. Além disso, crescia o fenô-
meno da grilagem, em que supostos proprietários, recebendo ordens dos
latifundiários locais, falsificavam os títulos de propriedade nos cartórios e
se atribuíam o direito à propriedade das terras.
As Ligas Camponesas foram uma forma de organização política dos
15 SIGAUD, Lígia.
Os Clandestinos e os Direitos
, Livraria Duas Cidades, São Paulo, 1979,
apud
MARTINS, José de
Souza. Ob. Cit., p . 66.
16 MARTINS, José de Souza. Ob. Cit., p. 66.
17 Denominação utilizada por José de Souza Martins aos movimentos de Canudos e contestada, em razão de sua
grande força religiosa.