

R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 132 - 156, out. - dez. 2016
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restam dúvidas acerca da resistência à ditadura da terra exercida pelas
oligarquias regionais.
Diante da forte repressão exercida pela política oligárquica, Canu-
dos resistiu. Sob a alegação de ser ummovimento monarquista, o exército
republicano enviou quatro expedições para destruir Belo Monte. Somente
a última cumpriu seu papel, fazendo desaparecer o povoado de Canudos
e juntamente com ele, este ideal de luta do trabalhador rural.
3 - A GUERRA DO CONTESTADO
Outro momento de tensão social envolvendo camponeses ocorreu
no Sul do país, em uma região entre os Estados de Santa Catarina e do
Paraná, com o nome de Contestado.
Nessa região, o governo se comprometeu a construir a estrada de
ferro São Paulo – Rio Grande. A empresa que ficou responsável pela obra
receberia em troca concessões de terras na largura de 9 km de cada lado
da ferrovia. Ocorre que nessas terras que seriam concedidas eram reali-
zadas atividades de extração de erva-mate, sendo enorme a presença de
posseiros que trabalhavam no local.
A empresa responsável pela construção da ferrovia se organizou no
sentido de colonizar as terras obtidas através dessa concessão governa-
mental. O instrumento utilizado para a colonização foi a venda das terras
a colonos estrangeiros.
Para viabilizar o uso econômico das terras concedidas era necessá-
rio expulsar todos os posseiros da região. Esta medida foi tomada a partir
de 1911
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. As tensões neste local aumentavam ainda mais porque além
dos posseiros que seriam expulsos de suas terras, o local concentrava tra-
balhadores desempregados devido ao fim da construção da ferrovia. O
conflito era inevitável e durou até 1916, quando o exército, as polícias
estaduais e alguns jagunços a serviço de fazendeiros da região tentaram
expulsar os camponeses.
Novamente repete-se aqui a trajetória de Canudos, em que a princi-
pal razão para a interferência do exercito foi a acusação de que os possei-
ros do Contestado erammonarquistas. Mais uma vez a luta dos campone-
ses era contra a república, pois esta retratava a política de desigualdades
exercida pelos coronéis. O ideal monarquista é bem definido por JOSÉ DE
SOUZA MARTINS no trecho: “
A monarquia era simplesmente o
contrário
13 MARTINS, José de Souza. Ob. Cit, p. 51.