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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 132 - 156, out. - dez. 2016

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como também a propriedade da terra como uma forma de dominação do

trabalhador rural livre. A elite não mais possuía o monopólio do escravo,

mas sim o monopólio sobre a terra.

A transferência da terra é uma atividade exclusiva dos estados, de-

monstrando o grande fortalecimento das oligarquias regionais, que além

de donos da terra, formando a classe dominante da época, também eram

donos do poder político. Os grandes proprietários de terra controlavam

os votos do eleitorado, tendo assim como conduzir a vida política daquela

determinada região. A esse fenômeno dá-se o nome de

coronelismo.

Os

coronéis, donos da terra, determinavam em quem seus empregados iriam

votar, formando verdadeiros “currais eleitorais”, criando assim a figura do

“voto de cabresto”.

O eleitorado manipulado pelos coronéis também era constituído

pelos seus clientes, observados sob a ótica econômica. A expressão co-

ronel não deve ser utilizada unicamente para os grandes proprietários de

terra, mas também para os comerciantes e fazendeiros. Os clientes desses

donos do capital instituíam um valor econômico ao seu voto, assim trata-

dos como mercadoria pelos donos do poder. O

clientelismo

era a maneira

de negociação que garantia aos donos da terra o poder político.

O sistema da troca de favores fundamentado no clientelismo era à

base da política dos coronéis, que, em contrapartida, recebiam apoio do

governo federal, fortalecendo assim sua liderança regional.

Nessa época, o camponês não era livre, sendo uma vítima inte-

grante desse sistema de troca de favores e de dominação da terra. É nes-

se contexto que surgem logo no inicio da república os primeiros focos de

luta camponesa, que nesse momento histórico são caracterizados pelos

movimentos messiânicos, que têm seu ápice na Guerra de Canudos e na

Guerra do Contestado

10

.

2 - CANUDOS

Movimento que ocorreu no sertão da Bahia, através do fim de uma

peregrinação iniciada nos anos 1870 por seu líder, Antônio Conselheiro,

que tinha entre seus seguidores camponeses, vaqueiros, jagunços e anti-

gos escravos. Após esta andança por diversos Estados do Nordeste, Antô-

nio e seus discípulos se estabeleceram em uma fazenda abandonada no

sertão baiano, com o nome de Canudos, fundando um povoado chamado

de Belo Monte.

10 MARTINS, José de Souza. Ob. Cit, p. 50.