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R. EMERJ, Rio de Janeiro, v. 19, n. 76, p. 114 - 127, out. - dez. 2016

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É sim o fato da ilegalidade que produz e insere no mercado empresas cri-

minalizadas, simultaneamente trazendo a violência como um subproduto

de suas atividades econômicas. Quando o mercado é legalizado, não há

violência. Não há pessoas fortemente armadas, trocando tiros nas ruas,

junto às fábricas de cerveja, ou junto aos postos de venda dessa e outras

bebidas. Mas, isso já aconteceu. Foi nos Estados Unidos da América, entre

1920 e 1933, quando lá existiu a proibição do álcool. Naquela época, Al

Capone e outros

gangsters

estavam nas ruas trocando tiros.

Hoje, não há violência na produção e no comércio do álcool. Por

que seria diferente na produção e no comércio de maconha ou de coca-

ína? A resposta é óbvia: a diferença está na proibição. Só existem armas

e violência na produção e no comércio de maconha, de cocaína e das de-

mais drogas tornadas ilícitas porque o mercado é ilegal.

As convenções internacionais e leis nacionais que discriminatoria-

mente proíbem condutas de produtores, comerciantes e consumidores das

arbitrariamente selecionadas drogas tornadas ilícitas ilegitimamente criam

‘crimes sem vítimas’, mas a proibição e sua guerra, como quaisquer outras

guerras, são letais. A ‘guerra às drogas’ mata muito mais do que as drogas.

No México, a partir de dezembro de 2006, a ‘guerra às drogas’ foi

intensificada, inclusive com a utilização das Forças Armadas na repressão

aos chamados ‘cartéis’. Desde então, as estimativas são de mais de 70.000

mortes relacionadas à proibição

6

. A taxa de homicídios dolosos no México

no período de 2000 a 2006 se mantinha em torno de 9 a 10 homicídios

por cem mil habitantes. Em 2009 chegou a 17 e em 2011 a 22,8 homicí-

dios por cem mil habitantes

7

.

No Brasil, a taxa de homicídios é ainda superior à do México – apro-

ximadamente 26 homicídios por cem mil habitantes

8

. Grande parte des-

ses homicídios está relacionada aos conflitos estabelecidos nas disputas

pelo mercado posto na ilegalidade. Outra grande parte desses homicídios

está relacionada à nociva e sanguinária política baseada na guerra.

Produzindo demasiada violência e demasiadas mortes, a ‘guerra às

drogas’ traz ainda de volta ao cenário latino-americano a cruel e trágica

6 Veja-se matéria do

The Observer

(08/08/2010), quando as mortes no México ainda estavam no patamar de

28.000. No início de 2012, o patamar subira para 50.000 mortes:

The Washington Post

(02/01/2012). Em 2013, já se

falava em 70.000 mortes:

International Herald Tribune

(08/03/2013). A precariedade das informações conduz a que

esses números se refiram a estimativas, podendo, na realidade, ser ainda maior o número de mortes.

7 Fonte: UNODC.

8 Fonte: Instituto Sangari.